Sócrates dizia que “O homem para ser completo tem que estudar, trabalhar e lutar”. Mas, não é bem assim que se forma um cidadão no Brasil. O motivo disso é que um estudo feito pelo Instituto Unibanco, com base nos últimos dados do IBGE, apontou que 1,3 milhão de jovens, no Brasil, abandonam a escola antes de concluir os estudos, e destes, 52% não chegaram a terminar o ensino fundamental.
Os números não param por aí – do total de jovens fora da escola, 610 mil são mulheres, entre elas, cerca de 212 mil são mães adolescentes. Deste grupo, apenas 2% retornam as aulas após o nascimento da criança. Já entre os homens, 63% evadiram, pois estavam trabalhando ou procurando emprego. Contudo, a educação até os 17 anos no país é obrigatória, de acordo com a Emenda Constitucional n° 59 e com o Plano Nacional de Educação, então, porque o índice de evasão continua em crescimento?
A superintendente de Desenvolvimento do Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação, Cecília Resende, aponta uma desconexão entre o jovem e o plano de ensino das escolas, como principal fator para o abandono precoce. “Além de vários outros motivos, o que vem sendo ensinado não dialoga com o campo e as necessidades da juventude hoje”.
Ela acrescenta que hoje, em Minas Gerais, 1,2 milhão de jovens são atendidos pelo Ensino Médio. “Mas, nós sabemos que 13% da nossa população entre 15 e 17 ainda está fora da escola. E é um número que não gostaríamos que existisse, e que nos entristece. Temos que reduzir esse índice e é o que estamos fazendo”.
Para superintendente, existem falhas que desmotivam o jovem. “É impossível fazer com que qualquer pessoa aprenda com um ensino que não sabe o que perguntar, não questiona, não mostra que aquilo que está sendo trabalhado pode resolver um problema. Digo isso, pois também sou professora há 30 anos e, sei que a escola hoje não desafia e não se conecta com o problema da comunidade em que está envolvida, não há motivação”.
Ela ainda completa que o grande problema do ensino, hoje, é se preocupar apenas em passar a informação. “Isso, nós podemos encontrar em qualquer lugar, que não seja atrás de uma mesa durante horas. A grande questão é ensinar o aluno a transformar tudo isso em conhecimento”.
Ações
Cecília afirma que já existem meios de reverter esse quadro. “Hoje, nós organizamos uma Superintendência de Desenvolvimento do Ensino Médio, Juventude e Educação Profissional. Esse núcleo, conta com quatro diretorias e cada uma delas trabalha com a perspectiva de atendimento pleno à juventude”.
Ela conta que o trabalho dessas diretorias na educação profissional tem sido realizado por meio de uma rede em todo o Estado. “Ofertamos 27 cursos de educação, técnicos e de ensino à distância, com carga horária de 800 a 1200 horas em todas as 47 regionais de Minas. As vagas são destinadas para todos os estudantes que estão ou já concluíram o ensino médio”.
De acordo com a representante da secretaria, a diretoria de Educação de Jovens e Adultos, reorganizou o currículo da formação desse grupo. “O tempo escolar foi revisto e abrimos 1.795 novas turmas que haviam sido fechadas ao longo dos últimos 12 anos. Nesse momento, temos a maior ampliação de atendimento ao EJA do Estado”.
Existe também um trabalho intenso feito para fomentar o protagonismo jovem. Segundo ela, foram organizadas rodas de conversas nas escolas estaduais, com a participação da comunidade e dos professores. “É preciso ouvir esses jovens, entender o que eles querem e o que precisam”.
Por último, está sendo fechada uma parceria com a UFMG. “Estamos organizando com eles um seminário que vai tratar de metodologias para o trabalho com a juventude. O objetivo é transformar a sala de aula e o ambiente escolar, tornando-o mais participativo e interativo para os jovens”.
Consequências
A superintendente destaca que abandonar os estudos é prejudicial para a formação do indivíduo como um todo. “Largar a sala de aula é deixar para trás sua cidadania. Educação é direito de todos e quando eu nego isso, eu estou negando a própria educação e formação do jovem, porque é através dos estudos que ele vai se formar como cidadão, agente social, empreendedor e ator social”.