O assunto sobre abuso sexual de crianças e adolescentes é polêmico e causa repulsa na maioria das pessoas. De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre 2011 e 2017, 141.105 casos foram registrados no Brasil. Apesar das estatísticas serem assustadoras, a maioria das violências são praticadas mais de uma vez e muitas não chegam a ser notificadas. Isso porque, além do sofrimento e constrangimento das vítimas, a questão é pouco discutida e merec mais atenção para o combate e prevenção.
Alguns mitos cercam o tema e dificultam a descoberta. Um deles é de que a violência acontece fora de casa e que o agressor é sempre alguém desconhecido. Na infância, as meninas são as mais afetadas com um percentual de 74,2%, enquanto os meninos correspondem a 25,8%. A faixa etária mais atingida é de 1 até 5 anos (51,2%). O estudo também apontou que 69,2% das ocorrências acontecem dentro da residência. Sobre as características do abusador, a maioria são homens (81,6%) e seu vínculo com a vítima é familiar (37%).
Já na adolescência, os números revelam que o crime é ainda mais evidente entre o sexo feminino (92,4%) frente ao masculino (7,6%) e também acontecem, principalmente, dentro de casa (58,2%). No que diz respeito ao perfil do agressor, novamente, a maior parte são homens (92,4%) e possuem relação de amigos e conhecidos (27,4%), desconhecidos (21,8%), familiares (21,3%), parceiros íntimos (17,1%) e outro (12,3%). O princípio da adolescência entre 10 a 14 anos é a época mais vulnerável (67,8%).
Para a psicóloga e especialista em Terapia Cognitiva Comportamental Michelle Moura, os pais ou responsáveis devem ficar de olho no comportamento das crianças. “Existem alguns sinais que podem indicar que alguma coisa está errada. Normalmente, apresentam agressividade, queda no rendimento escolar, tendem a se isolar e não querem muito contato com os colegas, podem ter dificuldade para dormir ou algum medo repentino de determinada pessoa”.
Ainda segundo a psicóloga, também é preciso ficar atento a outros sinais como comportamento sexual que não condiz com a idade, dores ou infecções nos órgãos genitais, hematomas ou inchaços pelo corpo. “As crianças são muito inocentes e facilmente compradas. A fase até os 5 anos deve ser muito policiada pelos pais e qualquer alteração de conduta deve ser motivo de alerta”, comenta.
Michelle salienta que sempre que são noticiados casos de violência sexual envolvendo crianças e adolescentes, a população tende a associar apenas com o ato da penetração forçada. “Isso também é uma das formas mais cruéis do abuso, mas a questão é muito mais ampla. É expor o menor a qualquer situação de cunho sexual impróprio a sua idade, sem necessariamente ter contato físico. Por exemplo, mostrar conteúdo adulto, masturbar-se na frente da criança ou falar coisas impróprias”.
Ela diz que a explicação para o fato de muitos agressores serem do sexo masculino está na cultura da sociedade. “Os meninos são estimulados desde cedo a ser o macho dominador, sair com todas as meninas e mostrar que ele é o pegador. Por outro lado, a cada dez agressores, uma é mulher. Elas são denunciadas com menos frequência, pois é uma questão ligada a cultura machista. A sociedade enxerga como normal a relação precoce entre meninos e mulheres mais velhas”.
A psicóloga afirma que para prevenir que o abuso aconteça, a primeira coisa é ter uma relação de confiança da criança ou adolescente com os pais ou responsáveis. “O diálogo e esclarecimentos são fundamentais, pois diminui a chance de serem um alvo fácil. Além disso, falar sobre o próprio corpo com eles é importante, no sentido de que não deixem que ninguém mais tenha liberdade para tocar suas partes íntimas. Ficar de olho nas pessoas que participam da vida dos filhos também pode ajudar a evitar essas situações”.