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Estudo aponta aumento de 80% na incidência de câncer entre jovens

Tumor de mama foi o mais prevalente nesse grupo / Foto: José Cruz/Agência Brasil

Com mais de 1,8 milhão de casos, cada vez mais jovens são diagnosticados com câncer em todo o mundo. O aumento foi de 80% em novas ocorrências entre pessoas com menos de 50 anos nas últimas três décadas (1990-2019), segundo um estudo publicado na revista britânica BMJ Oncology. O tumor de mama foi o mais incidente, embora os tipos de traqueia e da próstata tenham aumentado mais rapidamente desde 1990, revela a análise.

Os cânceres que causaram o maior número de mortes e que mais comprometeram a saúde entre os adultos mais jovens foram os de mama, traqueia, pulmão, intestino e estômago. Mais de 1 milhão de pessoas dessa faixa etária morreram em decorrência de tumores em 2019, um aumento de pouco menos de 28% em relação aos números de 1990. Com base nas tendências observadas nas últimas três décadas, os investigadores estimam que o índice global de novos casos de início precoce e de mortes aumentará mais de 31% e 21%, respectivamente, em 2030.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados 704 mil novos diagnósticos a cada ano do triênio de 2023 a 2025, uma soma que resultará em mais de 2 milhões de novos casos da doença ao longo desses 36 meses. Entre os tipos de tumor mais comuns no Brasil, o câncer de pele do tipo não melanoma continua na liderança.

Para o presidente do Instituto Oncoclínicas, Carlos Gil Ferreira, as medidas-chave para conter o avanço desses índices estão nas políticas de conscientização sobre a importância do acompanhamento médico periódico e realização de exames de rotina para detecção precoce do câncer. “Elas são a solução para diminuição dos impactos gerados pela doença em aspectos que extrapolam o debate epidemiológico, devendo ser considerado ainda o impacto dessa realidade nos custos, tanto do ponto de vista financeiro quanto humano”.

Já para a cirurgiã oncológica, docente na Faseh e mestre em Ciências Aplicadas à Oncologia, Fernanda Parreiras, esse crescimento expressivo reflete, em parte, justamente os avanços na detecção precoce. “Exames mais sensíveis e maior conscientização da população fazem com que hoje encontremos tumores que antes só seriam diagnosticados em estágios avançados. Porém, não podemos atribuir tudo ao diagnóstico, há, de fato, uma verdadeira elevação na ocorrência de alguns tipos de câncer em adultos jovens, que em alguns casos estão relacionados a fatores genéticos e também, ou exclusivamente, aos fatores ambientais, como hábitos de vida associados ao aumento da obesidade, uso e abuso de substâncias químicas, exposição à agentes agressores e outros”.

“O sedentarismo, por exemplo, contribui para o acúmulo de gordura corporal e inflamação crônica de baixo grau, ambos ligados a maior risco de câncer de cólon, mama e endométrio. Dietas ricas em ultraprocessados, gorduras saturadas e açúcares refinados promovem obesidade e resistência à insulina, condições prótumorais. Além disso, o estresse crônico altera o equilíbrio hormonal e reduz a eficiência do sistema imunológico em reconhecer e eliminar células anormais. Assim, um estilo de vida desequilibrado cria um ambiente interno que facilita o surgimento e a progressão de tumores”, explica.

Prevenção

Fernanda destaca que a vacinação contra HPV e hepatite B, reduz significativamente os cânceres de colo de útero, orofaringe e fígado; mudança de hábitos; proteção solar; e aconselhamento genético, em famílias com histórico de câncer precoce, permite rastreamento e intervenções personalizadas, são alguns dos cuidados que as pessoas podem ter para se prevenir.

Ela cita ainda alguns sinais de alerta que esse grupo não pode ignorar. “Nódulos ou caroços persistentes em qualquer região do corpo; feridas que não cicatrizam em boca, pele ou genitais; sangramentos anormais nas fezes, na urina, no corrimento vaginal ou no vômito; perda de peso inexplicada superior a 5% do peso corporal em seis meses; dor persistente sem causa aparente; e mudanças na pele, como pintas que alteram de cor, tamanho e bordas irregulares”, finaliza.