
A síndrome de Tourette é um transtorno neuropsiquiátrico que se manifesta principalmente durante a infância e adolescência, caracterizado por múltiplos tiques motores e pelo menos um tique vocal, presentes por mais de um ano. Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome acomete cerca de 1% da população mundial, aproximadamente 80 milhões de pessoas.
Segundo a neurologista Camila Borges, “os tiques são movimentos ou vocalizações súbitas, rápidas e recorrentes. Eles podem ser simples, como piscar os olhos, ou complexos, como saltar ou repetir palavras. A coprolalia, que envolve o uso involuntário de palavrões ou expressões inapropriadas, é um sintoma presente em uma minoria dos casos, mas frequentemente associada ao estigma social. É importante compreendê-la como um sintoma neurológico involuntário. Os xingamentos não refletem a personalidade ou os valores da pessoa, mas sim uma condição que está fora de seu controle”.
O diagnóstico é clínico, baseado na observação dos sintomas e na exclusão de outras condições e os tiques variam em intensidade e frequência e tendem a piorar em situações de estresse ou ansiedade. Camila diz que a Tourette raramente aparece sozinha. “É muito comum que venha acompanhada de outros transtornos, como o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), ansiedade e dificuldades de aprendizagem”.
O psiquiatra Rafael Monteiro explica que é essencial que os sintomas estejam presentes por pelo menos um ano e comecem antes dos 18 anos. “Às vezes, os pais demoram a procurar ajuda, achando que os tiques são apenas manias ou nervosismo. Mas quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor é a qualidade de vida da criança”.
A síndrome não tem cura, mas pode ser controlada. O tratamento varia de acordo com a gravidade dos sintomas e o impacto na vida do paciente. Em casos leves, muitas vezes, a simples observação e apoio psicológico são suficientes. Nos casos moderados a graves, podem ser indicados medicamentos como antipsicóticos, relaxantes musculares e antidepressivos.
“A Terapia de Intervenção Comportamental para Tiques (CBIT) ajuda o paciente a reconhecer o impulso do tique e desenvolver respostas concorrentes para impedir sua manifestação, antipsicóticos são utilizados para reduzir a intensidade dos tiques. Além disso, existem diversos medicamentos que podem ser eficazes, especialmente em crianças”, esclarece.
A educação da família e da escola também é fundamental. A empatia e o acolhimento ajudam a reduzir o estigma social e melhoram o desempenho acadêmico e social dos jovens com Tourette”.
Monteiro ressalta que apesar de retratada muitas vezes de forma caricata na mídia, a condição é uma condição real que pode ser desafiadora. O desconhecimento sobre a síndrome ainda gera preconceito, isolamento e até bullying. “Informar-se é o primeiro passo para combater o estigma. Pessoas com Tourette são inteligentes, criativas e capazes. Com apoio e tratamento adequado, podem levar uma vida plena”.
A cantora Billie Eilish falou abertamente sobre os desafios de conviver com a síndrome de Tourette, descrevendo a experiência como “extremamente exaustiva”. Durante uma participação em um programa em 2022, ela foi registrada tendo um tique enquanto conversava com o entrevistador. A artista afirmou que sente grande satisfação em compartilhar sua vivência com a condição, pois acredita na importância de falar sobre o assunto. No entanto, ela também destacou que nem todos reagem bem quando presenciam um de seus tiques.