
Pesquisas científicas identificaram a existência de uma conexão entre o diabetes mellitus e a demência. O estudo revelou que pessoas com baixo controle do diabetes têm de 22% a 78% mais risco de evoluir a demência, e que outras pessoas portadoras de Alzheimer e sem diabetes mostraram uma velocidade menor de desenvolver um declínio cognitivo importante. O índice elevado de açúcar no sangue pode ser um fator significativo para a incidência de Alzheimer, bem como uma causa secundária de demência.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, o diabetes mellitus e a doença de Alzheimer são condições relacionadas com a idade e ambas são caracterizadas por aumento de incidência e de prevalência ao longo do envelhecimento. O diabetes tem sido fortemente associado ao declínio cognitivo e ao risco aumentado de desenvolver todos os tipos de demência, incluindo o Alzheimer.
Segundo a entidade, em uma pesquisa recente, foram reunidos dados de vários estudos de coorte do diabetes e de Alzheimer e uma metanálise contendo 1.746.777 indivíduos para investigar as evidências que relacionam o diabetes como um fator de risco para o desenvolvimento da doença de Alzheimer. “Os resultados da pesquisa mostraram que o risco de desenvolver a patologia é maior entre as pessoas com diabetes do que na sociedade em geral, especialmente nas populações orientais”.
A médica geriatra da Saúde no Lar, Simone de Paula Pessoa Lima, explica que a diabetes mellitus, especialmente o tipo 2, pode causar ou contribuir para o desenvolvimento de demência. “Isso ocorre devido aos efeitos deletérios que a hiperglicemia crônica, a resistência à insulina e as complicações vasculares associadas à diabetes exercem no cérebro, comprometendo a saúde dos neurônios e da circulação cerebral”.
“A diabetes está associada a alterações metabólicas e vasculares que afetam diretamente o cérebro. A hiperglicemia crônica promove o estresse oxidativo e a inflamação, que causam danos neuronais e vasculares. A resistência à insulina interfere no metabolismo energético cerebral e favorece o acúmulo de proteínas tóxicas, como a beta- -amiloide, associada ao Alzheimer. Além do mais, o diabetes contribui para doenças nos vasos sanguíneos cerebrais, como aterosclerose e microangiopatia, que podem levar a infartos cerebrais silenciosos ou acidente vascular cerebral (AVC), típicos da demência vascular. Esses processos, somados, aumentam significativamente o risco de déficits cognitivos”, acrescenta.
Sintomas e tratamento
Os sintomas, em pessoas com diabetes, variam dependendo do tipo de demência, revela Simone. “Mas, os mais comuns incluem perda progressiva de memória, dificuldade em planejar ou realizar atividades cotidianas e alterações na linguagem, com muitas repetições e dificuldade em reconhecer lugares ou pessoas. Além disso, mudanças de humor, desorientação e perda de habilidades sociais, também podem ocorrer. Em casos de demência vascular, os indícios podem surgir de forma mais abrupta e incluir déficits neurológicos, como fraqueza em um lado do corpo, dificuldade de equilíbrio ou marcha instável”.
“O tratamento da demência vascular, especialmente quando associada à diabetes, é focado na prevenção da progressão da doença, no controle dos sintomas e na promoção da qualidade de vida. Embora não exista uma cura, a estabilização do quadro pode ser alcançada por meio de uma abordagem multidisciplinar. O principal objetivo é o controle rigoroso dos fatores de risco vascular, como hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia”, afirma a profissional.
Ela termina destacando as principais formas de prevenção. “Mudanças no estilo de vida têm papel fundamental. Adotar uma dieta saudável; prática regular de exercícios físicos aeróbicos, como caminhadas, também melhora o fluxo sanguíneo cerebral e auxilia no controle glicêmico e da pressão arterial; e estimulação cognitiva por meio de atividades que desafiem o cérebro, como leitura, jogos e aprendizado de novas habilidades, pode ajudar a preservar as funções mentais. Além disso, um sono de qualidade deve ser incentivado, pois distúrbios como apneia obstrutiva estão associados ao declínio cognitivo; entre outros”.