A apneia do sono afeta 936 milhões de pessoas no mundo e o Brasil aparece como o quarto país, entre os 17 listados, com mais diagnósticos do distúrbio, atrás da Índia (46%), China (36%) e Hong Kong (31%). São afetadas pela condição uma em cada 3 pessoas, segundo dados da Pesquisa do Sono da ResMed de 2024.
O médico otorrinolaringologista e especialista em Medicina do Sono, Tiago Vasconcelos Gonçalves, explica que a apneia é um distúrbio respiratório que ocorre durante o sono, caracterizado por pausas repetidas na respiração que podem durar de alguns segundos a minutos.
“Existem três tipos principais do distúrbio: a apneia obstrutiva do sono (a mais comum), que ocorre quando os músculos da garganta relaxam e bloqueiam as vias aéreas; a apneia central do sono, em que o cérebro não envia sinais adequados para os músculos que controlam a respiração; e a apneia mista, uma combinação dos dois tipos”, afirma.
Ele revela que o distúrbio é causado por fatores que levam ao estreitamento ou bloqueio das vias aéreas superiores. “No caso da apneia obstrutiva, as principais causas podem incluir o relaxamento excessivo dos músculos da garganta, obesidade (que contribui com o acúmulo de tecido adiposo na região do pescoço), hipertrofia das amígdalas e adenoides, e alterações anatômicas como um maxilar inferior pequeno ou língua grande”.
Já a apneia central, por outro lado, está mais relacionada a problemas neurológicos, como insuficiência cardíaca ou condições que afetam o tronco encefálico, esclarece o profissional. “Certos fatores, como uso de álcool, sedativos e envelhecimento, também podem aumentar a probabilidade de desenvolver o distúrbio, pois contribuem para o relaxamento muscular e a perda do tônus das vias respiratórias”.
Sintomas
Gonçalves destaca que a apneia do sono pode se manifestar de diferentes maneiras. “Os sintomas mais comuns incluem ronco alto e frequente, pausas na respiração observadas por terceiros, acordar com sensação de sufocamento ou engasgo, boca seca ao despertar, dor de cabeça matinal e sono não reparador. Durante o dia, é comum que o paciente apresente sonolência excessiva, cansaço, dificuldade de concentração, irritabilidade e alterações de humor, como ansiedade e depressão”.
Se não tratado adequadamente, o distúrbio pode desencadear ou agravar uma série de problemas de saúde, alerta o profissional. “Como a interrupção repetida da respiração que leva à redução dos níveis de oxigênio no sangue e ao aumento do estresse sobre o sistema cardiovascular, o que contribui para o desenvolvimento ou agravamento de hipertensão arterial, doenças cardíacas e arritmias”.
“A apneia também está associada a um risco maior de acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes tipo 2, devido à resistência à insulina. Além disso, a privação e a fragmentação do sono afetam a saúde mental, aumentando o risco de depressão, ansiedade e outros distúrbios do humor. Em longo prazo, pode impactar a memória, a cognição e a qualidade de vida como um todo”, acrescenta.
Outros males
O distúrbio também pode acarretar o apertamento dos dentes. Esse hábito involuntário, muitas vezes desconhecido pelo próprio paciente, gera uma pressão excessiva sobre a dentição, gengivas e mandíbula. Com o tempo, esse desgaste silencioso leva ao aumento da sensibilidade e ao envelhecimento precoce dos dentes.
O especialista em prótese dental, José Todescan Júnior, afirma que o desgaste que surge em função da apneia é um chamado de alerta. “É importante estar atento, pois o bruxismo é um dos primeiros sinais do impacto de um sono mal regulado nos dentes. Trata-se de uma questão de saúde que, se mal resolvida, pode afetar diversas áreas da vida, dos relacionamentos pessoais até a profissional e financeira”.
Tratamento
O tratamento depende da gravidade e das causas específicas do distúrbio, pontua Gonçalves. “Em casos mais leves, mudanças no estilo de vida, como perder peso, praticar exercícios regularmente, entre outros, podem ser suficientes. Em casos moderados a graves, o uso do Continuous Positive Airway Pressure (CPAP), um aparelho que fornece pressão de ar constante para manter as vias aéreas abertas, é altamente eficaz. E a possibilidade de cura depende de vários fatores, como a causa e a gravidade”, finaliza.