A longa estiagem que o Brasil enfrenta em 2024 pode afetar a produção agrícola. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), mais de 1.500 municípios tiveram suas zonas produtivas prejudicadas pela seca em agosto de 2024; desse total, 963 viram mais de 80% de suas áreas agropecuárias afetadas.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2023/2024 foi afetada pelo El Niño e a expectativa para 2024/2025 é que a seca, agravada pela possível ocorrência de La Niña, prevista para ocorrer entre setembro e novembro, prejudique ainda mais a produção.
A expectativa da economista Isadora Araújo é que a seca afete a terceira safra do milho no ciclo 2023/2024. “A próxima safra da soja 2024/2025, que vai ter seu plantio iniciado agora no mês de outubro, também pode ser afetada por conta da longa estiagem na maioria das regiões do país que produzem a commodity. Essa expectativa tem como base, principalmente o que aconteceu em outros anos de seca prolongada, como em 1998, 2015 e 2020”.
Outro produto que tem uma alta elevação em 2024 é o café. Ela destaca que a valorização do produto está acontecendo devido às questões de produção e logísticas no Vietnã, o segundo maior produtor de café, principalmente no segundo trimestre de 2024. “Vimos que o milho tem aumentado por causa da seca. Outros itens que a gente pode ver elevação de preço em 2024 são suíno vivo, que já estava em potencial de aumento antes da seca, boi gordo e frango vivo, pois a condição está afetando as pastagens”.
Por outro lado, a redução no preço de outros insumos pode ajudar a aliviar os impactos da seca sobre a performance da produção agropecuária e da energia elétrica, de acordo com a economista. “Temos a situação dos preços dos fertilizantes, que são comprados em dólar. Por mais que os preços estejam mais baixos, a volatilidade cambial impõe desafios”.
“Outro insumo que pode ajudar a aliviar é o preço do diesel que no momento está em um movimento de preços relativamente estável em comparação ao ano passado, mas levanta certos alertas em decorrência da volatilidade que pode vir a mostrar o preço do petróleo Brent no cenário internacional devido à escalada do conflito no Oriente Médio”, acrescenta.
Energia elétrica
O mês de outubro marca o início da cobrança da bandeira vermelha tipo 2, em que serão cobrados R$ 7,87 a cada 100 kWh consumidos. Somado a esse custo extra, o uso das usinas termelétricas pode gerar um aumento de 9,48% nas contas de luz, segundo projeção da GEP Costdrivers.
Isadora explica que esse reajuste nas tarifas deve influenciar no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “Apesar de um IPCA desacelerando em agosto e um IPCA-15 vindo abaixo do esperado, entendemos que os impactos possam vir nos próximos meses, principalmente porque os preços agropecuários estão em elevação”.
Capacidade de adaptação
O presidente da Academia Latino-Americana do Agronegócio (Alagro), Manoel Mário de Souza Barros, destaca que o agronegócio brasileiro já possui uma alta capacidade de adaptação em relação às condições climáticas que o Brasil vem enfrentando. “Essas adaptações exigem planejamento estratégico, aliado à inovação tecnológica, políticas públicas eficazes e o setor precisa adotar práticas sustentáveis para enfrentar as secas severas, principalmente o manejo integrado de recursos hídricos e a rotação das culturas que são resistentes à seca”.
Ele lembra que a tecnologia é fundamental para o agronegócio nos cenários de escassez de água e seca prolongada. “O avanço das técnicas do setor, principalmente da agricultura de precisão, melhora as condições do solo e do clima, além de otimizar o recurso para diminuir as perdas. Como por exemplo, sensores de umidade do solo. Hoje, com drones que são equipados com câmeras térmicas, são capazes de identificar áreas críticas de maneira antecipada, possibilitando implementar ações corretivas e a troca de informações em diferentes setores do agronegócio”.
Na opinião de Souza Barros, os sistemas de monitoramento climático podem e devem fornecer dados precisos sobre as condições atmosféricas. “Isso ajuda o pequeno produtor a tomar a decisão de como manusear as suas culturas. Esses dados podem ser integrados com as plataformas digitais que existem hoje no mercado e auxiliar no controle de pragas e doenças, reduzindo a necessidade de insumos e promovendo uma gestão mais sustentável em toda a produção”, conclui.