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Brasileiros já gastaram R$ 68 bilhões em sites de apostas on-line em um ano

Foto: Freepik.com

Um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontou que, entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros gastaram cerca de R$ 68 bilhões em apostas, valor que representa 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, o comprometimento da renda das famílias com essas apostas possui um potencial de reduzir em até 11,2% a atividade varejista, diminuindo em R$ 117 bilhões o faturamento do setor por ano.

“A gente estima que cerca de 1,3 milhão de brasileiros foram colocados em situação de inadimplência neste ano. E neste final de 2024 pode chegar a um adicional de mais 600 mil”, diz o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares.

Segundo o Banco Central (BC), desde o início de 2024, foi observado um aumento significativo no volume de transferências realizadas por meio do sistema Pix para plataformas de apostas esportivas, com o valor médio das transações apresentando um crescimento superior a 200%. Os dados mostraram que o brasileiro destinou somente via Pix de forma bruta, sem considerar os eventuais prêmios e bonificações, entre R$ 18 e 21 bilhões mensais de janeiro a agosto. Durante todo o ano de 2024, isso resultaria em cerca de R$ 216 bilhões deixados com essas empresas.

O BC também mostrou que de todo o montante usado pelo Tesouro Nacional às famílias beneficiárias do programa Bolsa Família, que representa R$ 14 bilhões, 20%, ou seja, R$ 3 bilhões, foram gastos com apostas.

O consultor financeiro Guilherme Ferraz, alerta que o fácil acesso a plataformas de apostas pode levar muitos a um ciclo vicioso de dívidas. “Com apenas alguns cliques, os brasileiros podem apostar em uma variedade de eventos, desde partidas de futebol até jogos de cassino. Muitos apostadores podem gastar mais do que podem pagar, levando a dificuldades financeiras significativas. O aumento do endividamento resulta em maior inadimplência, impactando a saúde financeira das famílias e a economia local”.

“Além disso, sem uma regulamentação eficaz, muitos jogadores podem optar por plataformas de apostas não regulamentadas, resultando em perda de receita fiscal para o governo. Quando o setor opera fora do controle do Estado, o potencial de arrecadação tributária diminui, prejudicando a capacidade do governo de investir em serviços públicos e infraestrutura”, explica.

Ele diz que o dinheiro que poderia ser gasto em bens e serviços essenciais, como alimentação e educação, pode ser desviado para apostas on-line. “Isso pode resultar em um impacto negativo no consumo geral, afetando setores da economia que dependem de gastos em produtos e serviços básicos. Muitos desses sites de apostas são operados por empresas estrangeiras, o que significa que os lucros gerados podem sair do país, reduzindo a receita tributária e os benefícios para a economia local”.

Para a psicóloga Sônia Miranda, a pressão emocional e o estresse associados ao jogo podem afetar a capacidade de tomar decisões financeiras racionais e a perda de produtividade no trabalho é um aspecto preocupante. “Funcionários que se tornam dependentes de apostas podem apresentar desempenho abaixo do esperado e gerar demissões. Podemos ver um aumento de casos de absenteísmo e desmotivação relacionados ao vício em jogos”.

Em entrevista à CBN na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que até 600 sites de apostas on-line serão banidos do Brasil nos próximos dias por apresentarem irregularidades em relação à legislação aprovada pelo Congresso Nacional. Ele também disse que a equipe econômica pretende extinguir determinadas formas de pagamento para as apostas on-line, como os cartões de crédito e, também, o cartão do Bolsa Família.