Um estudo publicado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) mostrou que o salário médio de um trabalhador negro é 42% menor que de um branco. Os dados indicaram que, em média, um homem branco ganha cerca de R$ 4.956 por mês, enquanto um homem negro, R$ 2.278. A diferença diminui um pouco quando são analisadas as mulheres: brancas ganham cerca de R$ 3.813 por mês e negras, R$ 2.278; a diferença percentual é de 40%.
Entre os homens, a diferença é de R$ 328,11, já entre as mulheres, esse número é de R$ 295,86. Os pesquisadores consideram que parte de tal discrepância salarial seria causada pela discriminação, a diferença restante está associada a fatores ligados a características dos trabalhadores, como educação, tipo de emprego, local e moradia.
Além disso, o levantamento também mostrou que a taxa de desemprego entre homens negros é 1,4 vez maior que de homens brancos. E entre mulheres, é 1,5 vez maior entre negras. Foi concluído que, em 2024, cerca de R$ 103 bilhões teriam sido ganhos a mais se negros tivessem salários e taxa de emprego similares aos brancos.
A consultora de Recursos Humanos, Karine Soares, destaca que em um cenário econômico marcado por avanços tecnológicos e transformações globais, a desigualdade de salários entre trabalhadores negros e brancos continua a ser uma questão persistente e alarmante. “A disparidade salarial não é apenas uma estatística fria, mas uma realidade que afeta a vida de milhões de pessoas e perpetua a desigualdade social”.
“A discriminação racial no ambiente de trabalho pode se manifestar de várias formas, desde a falta de promoção até a exclusão de oportunidades de desenvolvimento. Essa segregação frequentemente se reflete em salários mais baixos e menos benefícios. Além disso, trabalhadores negros estão concentrados em setores com menores salários e menos prestígio, como serviços e empregos informais. Esta separação ocupacional contribui para a manutenção da desigualdade salarial”, completa.
O contador Leonardo Batista é negro e diz que a luta permanece durante toda a vida. “Desde os tempos de escravidão, políticas públicas e privadas limitaram o acesso dos negros a oportunidades de trabalho e desenvolvimento. Isso fez com que durante as décadas tivéssemos menos acesso à educação de qualidade e falta de oportunidades para adquirir habilidades avançadas e qualificações devido à discriminação”.
Ele reforça que os trabalhadores negros estão frequentemente concentrados em setores e ocupações que apresentam condições precárias e que oferecem salários mais baixos e menos oportunidades de avanço. “Mesmo quando você consegue superar isso tudo e garantir uma boa formação, estereótipos e estigmas podem afetar a forma como somos percebidos e avaliados pelos empregadores, levando a uma avaliação desigualmente crítica da competência”, conta.
Para Karine, embora o cenário atual seja desafiador, são necessárias mudanças dentro das culturas das empresas e da mentalidade da sociedade. “Iniciativas que incluam programas de mentoria para jovens profissionais negros, políticas de recrutamento e promoção mais inclusivas, treinamentos sobre preconceito inconsciente para empregadores e fiscalização mais rigorosa das práticas de discriminação no trabalho são ações que podem ser pensadas”.
“A disparidade salarial contribui para uma perpetuação da pobreza entre comunidades negras, limitando o acesso a serviços básicos, como saúde e educação, e dificultando a mobilidade social, e é algo que nenhuma empresa pode mais tolerar em 2024”, conclui.