Belo Horizonte já foi uma cidade muito bem fiscalizada. Não vigiada, apenas fiscalizada. Qualquer cidadão guarda na memória as famosas blitz de trânsito que cercavam quarteirões, assim como a ação policial na área da Savassi, em torno do famoso Beb’s, local de encontro dos jovens dos anos 1970 e 1980. Era uma ação conjunta entre as Polícias Civil, Militar, Bombeiros e fiscalização da Prefeitura de BH. O trabalho era um só. De lá para cá, muita coisa mudou.
A modernidade exigiu ações mais discretas e pontuais. Aos poucos, essa união de forças foi se afastando e cada um passou a agir por conta própria. Muitas vezes, a participação de outro órgão só acontece depois do flagrante ocorrido. Não existe mais um tipo de ação preventiva. A cidade fica agora por conta da vigilância de postos policiais móveis e algumas abordagens de pouco tempo. Eu mesmo assisti recentemente esse tipo de ação na zona Sul de BH. Uma equipe da Polícia Militar montou toda uma parafernália para fiscalizar, parou duas motos e logo levantaram acampamento. Foram averiguados dois entregadores de iFood, mas logo foram liberados. Coisa de meia hora.
Houve um tempo que a fiscalização da prefeitura deu muita dor de cabeça para aqueles comerciantes que burlavam as leis. Era multa por barulho, sujeira, mesas na calçada, letreiros e até mesmo toldos. Tenho amigos que eram proprietários de bares em Santa Tereza e comeram o “pão que o diabo amassou” para atender as exigências legais. Aténivelamento de passeio era exigido.
Agora parece que liberou geral. Em vários pontos da cidade o barulho ecoa depois da meia-noite sem nenhuma ação para coibir. Se o leitor visitar o boêmio bairro de Santa Tereza, vai constatar o que digo. São centenas de mesas ocupando as ruas. Transeuntes que se virem, ou andam na rua, ou tropeçam em cadeiras e garçons. Deve existir uma norma para isso, ou está realmente liberado? Podem visitar outros bairros também. O problema é geral.
Outra coisa que anda bem acima do normal na cidade é o número de moradores de rua. Ele cresce a cada dia e já está chegando aos bairros. Como se não bastasse a ocupação das Praças da Estação e Raul Soares, eles estão chegando às zonas Norte e Nordeste. Isso não é uma exclusividade de Belo Horizonte. É uma coisa das grandes cidades e precisamos de programas que possam ser aplicados para redução desse impacto social.
Mas o descalabro da fiscalização da Prefeitura de Belo Horizonte bateu todos os recordes na semana que passou e foi destaque na imprensa nacional. Um passageiro que utiliza a linha 9211, que liga Caetano Furquim ao bairro Havaí, denunciou as condições de uso do coletivo. Uma barra de ferro que existe dentro do coletivo para oferecer segurança aos passageiros que viajam em pé, e que serve para solicitar a parada através de um dispositivo acoplado a ela, estava quebrada. Simplesmente tiraram a barra quebrada e colocaram um pedaço de cana-de-açúcar. Isso mesmo, cana-de-açúcar. E o ônibus circulou normalmente por dois dias, até a denúncia do usuário. A prefeitura, procurada pela imprensa, afirmou que a manutenção é por conta da empresa e que o ônibus tinha sido recolhido. Mas, e a fiscalização? Ninguém faz? Não existe nenhum controle?
Isso não é picuinha. É a realidade que vivemos. Conheço muita gente que realmente trabalha pela cidade, mas acho que a prefeitura tem que cuidar mais de seu povo. Não adianta maquiar já pensando no período eleitoral escondendo a sujeira para debaixo do tapete. Tem que mostrar a cara. Porque se não fizer, está cheio de gente querendo ocupar o espaço.