Segundo estimativa da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o setor automotivo deve investir R$ 125 bilhões no Brasil até 2032. Em Minas Gerais, um dos investimentos será da Stellantis, proprietária das marcas Fiat, Jeep e Citroën, que destinará R$ 14 dos R$ 30 bilhões que serão aplicados no país entre 2025 e 2030, além de mais R$ 454 milhões na ampliação da fábrica de motores, ambas em Betim.
Além da Fiat, outras seis empresas mineiras e mais 62 fabricantes de veículos e de autopeças receberão incentivos do Programa Verde e Inovação (Mover), do governo federal, que destinará ao setor automotivo R$ 19,3 bilhões até 2028, para empresas que investirem em eficiência energética dos veículos, além da inclusão de limites mínimos de reciclagem na fabricação dos veículos e na cobrança de menos imposto para quem polui menos, criando o IPI Verde.
O economista-chefe da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), João Gabriel Pio, avalia que o anúncio feito pela Stellantis ajudará a manter o Estado em uma posição de destaque. “O segmento automotivo possui uma extensa cadeia produtiva que abrange confecção de autopeças, metalurgia e eletrônicos. Considerando os encadeamentos produtivos do setor e seu efeito multiplicador, os investimentos impulsionarão toda a economia mineira”.
“Além da criação de empregos diretos na fabricação de veículos e motores, espera-se a geração de inúmeros empregos indiretos. Os investimentos reforçam Minas Gerais como um polo fornecedor e de desenvolvimento de tecnologias avançadas essenciais para a descarbonização, posicionando o Estado na vanguarda das inovações tecnológicas no setor automotivo”, acrescenta.
Ele avalia que o investimento para implantação de novas tecnologias híbridas-flex significa a abertura de um novo mercado de componentes para o setor e para as empresas mineiras. “Este novo ciclo reforça a confiança dos empresários em seus negócios no Estado”.
O investimento da Stellantis irá impactar uma rede de empresas que são importantes para a economia mineira, salienta o economista da Fiemg. “Em 2022, aproximadamente 94% das companhias do setor de veículos, peças e acessórios em Minas Gerais eram de micro, pequeno ou médio porte, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego”, finaliza.
Mais setores impactados
Para o economista Gelton Pinto Coelho, os investimentos realizados pelo setor automotivo impactarão outros ramos. “Os veículos são um bom exemplo de como a industrialização pode ampliar mais rapidamente as transições energéticas necessárias. O Brasil tem a maioria dos carros flexíveis à combustível e agora terá também a inovação dos híbridos”.
“Em Belo Horizonte, por exemplo, o asfaltamento e recapeamento de vias supera os R$ 300 milhões, sem incluir as obras viárias. Tudo isso gera emprego, renda, circulação de moeda e, consequentemente, um cenário mais favorável a investimentos das montadoras”, complementa.
Sobre o valor dos veículos híbridos, Coelho acredita na redução devido à queda no preço do aço e à reorganização da cadeia produtiva. “A Selic alta influencia os juros de financiamento. O Banco Central erra ao não acelerar a diminuição da taxa no momento em que o país precisa de crédito barato para expandir”.
Coelho conclui dizendo que iniciativas como o Mover, Nova Indústria Brasil e o anúncio de investimentos do setor siderúrgico de R$ 100 bilhões, até 2028, podem trazer competitividade à indústria brasileira. “É provável novas organizações societárias para que obras de infraestrutura possam voltar a ter prioridade na nossa pauta de exportações, trazendo reservas para resolvermos internamente os problemas estruturais que temos”.