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BH vai receber as primeiras estátuas de pessoas negras

Foto: Vander Bras/PBH

Um projeto idealizado pela jornalista Etiene Martins irá inaugurar, em Belo Horizonte, as duas primeiras estátuas de pessoas negras da capital mineira. As personalidades homenageadas escolhidas foram Carolina Maria de Jesus e Lélia Gonzalez. O evento de lançamento vai acontecer no dia 13 de junho, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, e contará com a presença de Conceição Evaristo e Angela Davis.

As figuras retratadas das estátuas na cidade possuem algumas características em comum, sendo homens e brancos em sua maioria. Um inventário, realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), mapeou cerca de 150 monumentos, bustos e esculturas. Dentre eles, muitos italianos, espanhóis, portugueses e militares. São pouquíssimas as mulheres e nenhuma pessoa negra. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, 56,1% da população é negra.

O incômodo devido à falta de representação foi o que levou a jornalista Etiene Martins a idealizar a homenagem para as duas personalidades negras. As estátuas serão inauguradas pela PBH, por meio da Secretaria de Cultura, e a concretização do projeto se deu via parceria com Jozeli Rosa e verba de emenda parlamentar direcionada pela deputada estadual Bella Gonçalves (Psol).

Ela conta que assim como o Brasil, a maior parte da população de Belo Horizonte se autodeclara negra. “As estátuas chancelam e guardam a memória desse povo. Atualmente, grande parte das figuras em BH são de homens brancos, o que acaba apagando a nossa memória. O objetivo é deixar viva a lembrança dessas pessoas”.

“Espero que os Poderes Executivo e Legislativo deem mais atenção a essa parcela da população e que essas estátuas sejam as primeiras de muitas. Fica difícil promover um pensamento mais igualitário quando temos um parlamento completamente branco. É necessário que haja diversidade na política, educação, saúde, cultura, entre outras áreas”, acrescenta.

As duas personalidades escolhidas para serem as primeiras homenageadas são conhecidas e admiradas mundialmente. Carolina Maria de Jesus é natural da cidade de Sacramento, e Lélia Gonzalez nasceu em Belo Horizonte. “Desde que conheci a história dessas duas mulheres não parei mais de ler e estudar suas obras e reflexões. É uma inspiração a trajetória de Carolina, que tinha como única fonte de renda para se sustentar a coleta de papel reciclável. Ela foi a escritora brasileira mais traduzida da sua época, com a obra Quarto de Despejo”, argumenta Etiene.

“Já Lélia Gonzalez, ao propor reflexões sobre as mulheres negras latinas, se tornou uma grande intelectual, sendo uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado e um dos maiores nomes do feminismo no mundo”, conclui.