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“Quadra 16” debate a dor da perda de um filho

A palestra-performance fica em cartaz até o dia 7 de abril – Foto: Amanda Gomes

Discutir o luto parental e a invisibilização da dor materna durante esse período é a intenção da palestra-performance “Quadra 16”, que estará em cartaz entre os dias 4 e 7 de abril, no Teatro Raul Belém Machado, em Belo Horizonte. O espetáculo foi escrito e tem a atuação da atriz Cris Moreira. Os ingressos podem ser comprados no Sympla.

Em 2008, quando estava grávida de gêmeos, Cris deu à luz a dois filhos. O Francisco, que faleceu apenas 48 horas após o seu nascimento, devido a uma hemorragia pulmonar, e o João, que ficou em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por 79 dias. Ela destaca a importância de debater o assunto. “Abrir espaço para que as mães possam sentir a perda e viver o luto sem culpa, sem prazo, sem regras e gerar empatia nas pessoas do convívio dessas mulheres, para que elas sejam acolhidas, pelo tempo que precisarem e sem prazo para que elas se ‘curem’. Mães que perderam filhos não se curam do filho, mas aprendem a conviver com a ausência”.

A atriz conta que o silêncio sobre o assunto a motivou na criação de “Quadra 16” e detalha o processo de escrita do espetáculo. “Escolhi o formato de palestra-performance, porque nele é possível abrir mão do personagem, sem precisar criar cenas ou ficcionalizar os acontecimentos. Em 2020, após o nascimento do meu terceiro filho, fiz análise para dar conta dessa nova maternidade e para entender questões que havia ignorado anteriormente. Acredito que o luto também é um maternar, sem manual, sem necessidade de ser resolvido, apenas vivido, no tempo e na forma que a pessoa enlutada consegue”.

Um dos desafios destacados por Cris é o de expor uma vivência que para grande parte da sociedade é um assunto pessoal. “Nos poucos ensaios que fiz para amigos, percebi a dimensão do quanto essa história mexe em lugares que não havia acessado antes. Além disso, é um desafio diário descobrir o elo entre a minha vivência e a de diversas mães que passaram porperdas semelhantes, descobrir o que é coletivo, sem perder a particularidade da experiência”.

A autora de “Quadra 16” acredita que a arte tem um papel poderoso em questões humanas, sociais e políticas e espera que a sua atuação ajude na conscientização do luto materno. “A gravidez da mulher é pública, as pessoas se sentem no direito de perguntar sobre, de tocar a barriga, de dar opinião, porém, quando um filho morre, o luto se torna particular, sem terreno para o acolhimento”.

“As pessoas não sabem como agir e, muitas vezes, na intenção de ajudar, acabam por não abrir espaço para que essa mãe fale, chore, sinta no meio coletivo. Pelo fato de o assunto ser delicado demais, existe uma solidão imensa no luto materno. Espero que as mães que perderam filhos se sintam acolhidas ao assistir o trabalho e que o seu entorno também a acolha nas suas necessidades”, conclui.

Serviço

“Quadra 16”

Período: 4 a 7 de abril
Horários: quinta a sábado, às 20h, e no domingo, às 19h
Local: Teatro Raul Belém Machado (Rua Jauá, 80 – Alípio de Melo)
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)