O Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional (CRPC) Lagoa do Nado inaugurou a mostra inédita “Pakaçara: BH é Terra Indígena”, com realização da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura, em parceria com a Associação Cultural e Artística Ouro Negro. A exposição pode ser visitada gratuitamente até outubro de 2024.
“Pakaçara: BH é Terra Indígena” foi criada a partir de um movimento que une a arte, a criatividade, os saberes tradicionais e a cosmologia dos povos indígenas, em busca de reforçar sua resistência e conceber um aporte didático para o conhecimento do público. A mostra nasceu sob a curadoria da professora e socióloga Avelin Kambiwá e da socióloga Maria Flor Guerreira (Txahá Txohã), com cocuradoria e cenotecnia de Yaku Runa Simi, artivista híbrido multilinguístico. A pesquisa, concepção e produção executiva da exposição teve o apoio do Comitê Indígena Mineiro, e a mostra contou com a participação de artistas indígenas convidados na produção de mural e grafismos.
A expografia de “Pakaçara: BH é Terra Indígena” foi pensada de modo a inserir o visitante em três diferentes espaços, todos identificados na língua nheengatu. Dessa forma, o público participa do processo de Pakaçara, que significa “Despertar”, transitando pelas diversas artes apresentadas e honrando a ancestralidade dos povos indígenas.
Para Luciana Féres, presidente da Fundação Municipal de Cultura, é de extrema importância que a mostra ocupe o CRCP, em alinhamento com as atividades desenvolvidas no local dentro da política pública cultural do município. “O Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado se estrutura como um ponto de encontro permanente para a discussão sobre a cultura popular e tradicional na capital, configurando-se como um centro de excelência e importante espaço de formação. A mostra inédita sobre a cultura indígena na capital reafirma, mais uma vez, nosso compromisso em preservar e valorizar a memória e o pertencimento das etnias na construção de nossa história”, ressalta.
A exposição faz parte do projeto “Em Exposição: Cultura Popular”, uma ação que busca valorizar, difundir e promover as várias formas de manifestações da cultura popular em Belo Horizonte, realizando exposições anuais, no Casarão do CRCP Lagoa do Nado, proporcionando maior reconhecimento e visibilidade à cultura popular, que muitas vezes é discriminada e está à margem de um suposto saber elitizado. Destaca-se ainda a sua grande importância para a educação patrimonial, visto que na elaboração da exposição, o setor educativo procura desenvolver, juntamente aos curadores, ações de mediação junto ao público espontâneo e agendado.
Na opinião da professora de história, Letícia Oliveira, a exibição apresenta conceitos e mostra que elementos culturais identificados a determinados grupos sociais transitam dentro da sociedade. “Nas ruas e edifícios de Belo Horizonte, encontramos diversos nomes indígenas, além de várias palavras no nosso vocabulário do dia a dia e culinária. No Brasil, que tem em sua formação a base do colonialismo, a história em relação aos indígenas é marcada por um processo de apagamento e extermínio. Desse modo, pensar e manter a cultura dos povos indígenas é uma forma de continuidade dos originários. Essa população vem sofrendo retrocesso com perda de cultura, de língua e de território. Por isso, acredito que é muito importante manter viva sua cultura e respeitá-la”.
Para Letícia, é importante enxergar a história de luta e resistência desses territórios pela ótica cultural, histórica e religiosa que constituem suas identidades. “Precisamos saber a importância de buscar a sabedoria dos povos originários, principalmente em tempos de crise. Um meio potente de acesso a esses saberes é a arte, por meio dela podemos entender nossa força e origem”.