No futebol, seguramente mais do que em qualquer outro esporte, o árbitro é um agente muito importante nas variações de dinâmica do jogo devido às inúmeras possibilidades e interpretações que a partida futebolística proporciona. Símbolo de autoridade e imparcialidade, o juiz de futebol é quem tem o papel de eliminar a violência improdutiva, as jogadas irregulares, tudo em nome da disciplina e da valorização do espetáculo. Além de decidir quando o jogo deve ser interrompido e recomeçado por meio da marcação de faltas, o árbitro é quem legitima o resultado de uma partida.
A implantação de recursos tecnológicos tem trazido uma mudança radical na leitura do jogo de futebol. Para tanto, tem sido necessária muita compreensão de todos os envolvidos neste apaixonante esporte. Jogadores, técnicos, dirigentes, árbitros, gestores de arbitragem, torcedores, enfim, todos precisam colaborar. Afinal, a ferramenta trouxe mais justiça ao resultado final dos jogos. Vem passando por adaptações a fim de tornar o jogo mais dinâmico, sem grandes interrupções. Daí a importância de todos os atores envolvidos se interessarem mais sobre como funciona o protocolo do VAR (sigla em inglês do árbitro de vídeo) e, acima de tudo, respeitar suas diretrizes.
Ao longo do tempo, a história do futebol nos mostra diversas mudanças na forma como o jogo é disputado. Os esquemas táticos estão sempre mudando e se modernizando. A capacidade física dos jogadores se intensificou, e a velocidade do jogo evidentemente aumentou. Os árbitros, embora não profissionais, são treinados e orientados para se adaptarem ao futebol moderno. Hoje podemos dizer que os árbitros têm uma mentalidade profissional e encaram os jogos com outro tipo de preparação, seja física, técnica ou mental.
O uso da tecnologia é uma tentativa válida e necessária ao futebol moderno, com o objetivo principal de trazer ainda mais legitimidade e transparência para o futebol. Durante anos, o Brasil desacreditou no juiz de campo. Agora, uma vez pactuado que o auxílio tecnológico está estabelecido no futebol mundial, a desmoralização se direcionou ao árbitro de vídeo. Ainda que seja imperfeito o sistema, não é preciso grande esforço intelectual para reconhecer o quanto é mais confiável do que o olho humano. Ainda assim, somos obrigados a ouvir dirigentes, profissionais de imprensa e treinadores exibindo, no “olhômetro”, certezas categóricas, atribuindo-se o direito de não só disputar com a máquina, mas de desqualificá-la.
O que vivemos é uma desmoralização conveniente, seja do VAR, do árbitro de campo, das competições ou do bode expiatório que se apresentar. As regras assinadas têm prazo de validade, apenas até que o afago na ira da arquibancada ou a necessidade de desviar o foco do campo se torne prioridade. Afinal, é confortável terceirizar a derrota e os planejamentos desastrosos. É sempre útil fazer um exercício: qual último clube que se dispôs a elaborar uma proposta de profissionalização ou desenvolvimento dos árbitros? Qual deles se dedicou mais a polir a credibilidade das competições do que a “jogar para a galera”? No Brasil, as regras valem enquanto são convenientes. É despudorada a forma como rasgam qualquer acordo, qualquer pacto.
O futebol é um microcosmo do país. Uma das coisas mais importantes, dentre as menos importantes. Enquanto isso, os árbitros são jogados na cova dos leões. Servidos de bandeja para uma sociedade esportiva doente, despreparada, parcial e que só se preocupam com seus likes, audiência e difusão da discórdia.