Contar a história musical de Belo Horizonte ao longo dos seus 125 anos. Esse foi o desafio de Jorge Fernando dos Santos, para fazer o livro “Belo Horizonte em letra e música”. Inspirado em um trabalho feito em 1997, quando produziu com a cantora Helena Penna o CD Beloriceia, reunindo músicas feitas em parceria com Angelo Pinho para o centenário da capital mineira. No disco, metade das 15 faixas homenageiam BH.
Outro ponto que inspirou o autor a escrever o livro foi a partir de um desconhecimento das pessoas em relação às músicas que citam Belo Horizonte. “Percebi que poucas conhecem canções que falam da cidade. Você vai em uma roda de samba ou choro e, normalmente, cantam sobre o Rio de Janeiro e Bahia, raramente sobre BH”, afirma Santos.
Ele revela que todo o trabalho de pesquisa, entrevistas, edição e finalização do livro durou quatro anos. “Fiz uma intensa busca, reunindo letras inspiradas em Belo Horizonte, seus bairros, ruas, avenidas e praças. Ao todo, são mais de 200 músicas catalogadas no livro. Com trechos dessas letras e depoimentos de 50 pessoas, sendo compositores, intérpretes e pesquisadores”.
Ao longo de 400 páginas, podem ser vistas fotos, trechos das canções e entrevistas. Vários bairros da cidade, como a Savassi, Lagoinha, Padre Eustáquio e Santa Tereza, locais como a Rua da Bahia, a Serra do Curral e atrações culturais de BH, como o Mercado Central, Mineirão e a Feira Hippie são homenageados. Também tem espaço dedicado aos três clubes da capital, América, Atlético e Cruzeiro.
Durante o processo de criação, Jorge Fernando dos Santos teve alguns desafios. “O principal foi tratar de um assunto que tem muita informação, por medo de deixar de fora alguma coisa importante. Também a falta de dados, já que muitas vezes, o material não está disponível na internet e nem bibliotecas. Outro problema foi durante a pandemia, com a impossibilidade de encontrar algumas pessoas e a falta de um grande acervo da música de Belo Horizonte”.
Santos destaca a importância do livro para a história da capital mineira. “BH tem uma tradição cultural e musical desde o início da sua construção. Antes mesmo da inauguração, já tínhamos bandas de música, grupos de seresta. Em 1896, Alfredo Camarate, maestro e um dos construtores de Belo Horizonte, criou a Orquestra Carlos Gomes. Ao longo da sua história, a cidade sempre teve muita atividade musical. O teatro municipal, os cinemas no início do século 20 e durante a fase áurea dos programas de auditório das rádios Mineira, Guarani e Inconfidência e da TV Itacolomi, tinham as suas orquestras. Também passando nas fases da Jovem Guarda, Rock, Bossa Nova, Samba até chegar ao Clube da Esquina. Apesar dessa tradição musical, não existia um livro que reunia tudo isso”.
Jorge Fernando dos Santos acredita que o livro é uma forma de homenagem aos músicos de Belo Horizonte. “A capital é muito cultural, mas ainda com poucas raízes. Ela foi formada por pessoas que vieram de outros lugares, o que talvez tenha dificultado a conhecer essa música que fala da cidade. O livro abre as cortinas para que o assunto venha à tona. Provavelmente, existem grupos que ainda não conheço, mas procurei abranger desde a velha guarda até os nomes mais novos”.