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Etarismo dificulta inserção de maiores de 50 anos no mercado de trabalho

Somente de 6% a 10% das empresas têm funcionários nesta faixa etária / Foto: Freepik.com

Um estudo da Ernst & Young e a agência Maturi, realizado em quase 200 empresas no Brasil, mostrou que a maioria das companhias pesquisadas têm de 6% a 10% de pessoas com mais de 50 anos em seu quadro funcional. Conforme a pesquisa, 78% das instituições se consideram etaristas e têm barreiras para contratação de trabalhadores nessa faixa de idade.

Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo revelou que, de 2012 a 2019, a parcela da população com mais de 50 anos saiu de 23% para 28%. Estimativas indicam que até 2040, seis em cada dez trabalhadores brasileiros terão mais de 45 anos. Os números do IBGE mostram ainda que, em 17 milhões de famílias no país, o sustento econômico fica por conta de pessoas com mais de 60 anos.

O fundador da agência Maturi, Mórris Litvak, diz que o mercado de trabalho brasileiro não está preparado para a demanda cada vez maior. “O preconceito ainda é muito forte. É uma coisa que faz parte da nossa cultura como um todo, mas nesse segmento, é ainda pior. O que precisa ser feito é educar”.

A consultora organizacional, psicanalista e especialista em liderança, Renata Lemos, pontua que essa é uma realidade do país e do mundo. “Hoje, podemos perceber que existem poucas políticas e práticas de empregos voltadas para esse público. Precisamos provocar uma mudança na mentalidade dos empregadores e promover incentivos para o desafio do envelhecimento da população”.

Ela destaca que o primeiro movimento seria as empresas se conscientizarem e perceberem a importância e os ganhos de se contratar pessoas mais experientes. “Podem promover espaços de conversas significativas e capacitação adequada para a preparação desses profissionais para as oportunidades de trabalho”.

A consultora organizacional afirma ainda que as políticas públicas podem contribuir também de forma positiva para esse movimento. “Por exemplo, desenvolver incentivos fiscais e políticas inclusivas para as empresas contratantes e oferecer estímulos para essa faixa etária buscar espaço no mercado. Hoje, temos a Política Nacional do Idoso que não atende todas as demandas, necessitando atualização, principalmente nessa parte de empregos”.

Mercado de trabalho

Conforme dados do Ministério do Trabalho e Previdência, com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), em 2006, profissionais com mais de 50 anos representavam 12,6% dos postos ocupados. Em 2020, esse índice saltou para 19%, um aumento de 51%. Em números absolutos, o crescimento, no período, foi de 4,4 milhões para 8,7 milhões de trabalhadores.

Renata salienta que um dos pontos mais importantes desse público é se desafiar e acreditar no seu potencial produtivo. “É necessário que se adaptem às exigências do mercado atual, afinal, competências e habilidades exigidas anteriormente podem ser diferentes das atuais. Desenvolver e aprimorar suas competências técnicas e comportamentais é um bom começo. Cursos e capacitações que utilizam tecnologia, por exemplo, são indispensáveis para se tornarem competitivos”.

Capacitação

O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) registrou um aumento significativo no número de matrículas de pessoas com mais de 50 anos em seus cursos. Nos últimos quatro anos, houve um salto de 34%. Eram 92 mil pessoas dessa faixa etária matriculadas em 2018, contra mais de 124 mil apenas entre janeiro e outubro de 2022.

Diversas atividades da instituição pelo país, como o Programa Senai de Ações Inclusivas (PSAI), têm estimulado a matrícula de pessoas com idade avançada. Outro grupo que vem ampliando a busca pelos cursos é o dos aposentados. Entre janeiro e agosto de 2022, foram mais de 5,6 mil inscrições com esse perfil, principalmente nas aulas de costura, eletricista, confeiteiro e Excel.

Renata conclui dizendo que esses tipos de programas podem desempenhar um papel muito importante na promoção do desenvolvimento e capacitação desses profissionais. “Através deles é possível atualizar as suas competências e habilidades, além de estar inserido em um ecossistema onde as pessoas possuem as mesmas necessidades, trazendo valorização, oportunidades e pertencimento para todos”.