O etarismo é qualquer ato de discriminação por conta da idade, podendo ser velado ou de forma mais direta. É o preconceito baseado na idade das pessoas, que acabam sendo julgadas pela sociedade como incapazes para estudar, trabalhar, tomar decisões ou até mesmo realizar tarefas simples do dia a dia.
Recentemente, tivemos o caso da universitária Patrícia Linares, de Bauru, que foi debochada por colegas de sala pelo fato de ter mais de 40 anos. Para discutir sobre o assunto, o Edição do Brasil conversou com a especialista em longevidade, Márcia Sena.
O Brasil é um país etarista?
Sim, nós somos um país discriminatório. O etarismo está presente em nossa sociedade há bastante tempo, mas só agora estamos enxergando e identificando. Porque antes, ele passava como um elemento cultural. A expectativa de vida da população está aumentando e os idosos estão muito mais empoderados. Aquela imagem das avós e avôs, usando pijama e chinelo, assistindo TV o dia todo, já não existe mais. Essas pessoas estão ocupando espaço e tendo voz em locais em que antes não tinham.
Qual público sofre mais com o problema?
Infelizmente, as mulheres são as que mais sofrem com a questão do etarismo. Por exemplo, o ator George Clooney tem os cabelos grisalhos, tem mais de 60 anos e todo mundo acha lindo. Agora, a Michelle Yeoh, que venceu o Oscar de melhor atriz, também passou dos 60 anos e não tem a mesma admiração. Ainda temos um traço de machismo, onde a mulher tem que ser submissa, calada, bonitinha, estar sempre bem e magra. A nossa sociedade ainda tem muito a aprender.
O etarismo também é comum no mercado de trabalho?
Está bastante presente no mercado de trabalho este preconceito por conta da idade. Depois dos 40 anos, já está no limite dentro de uma empresa, a não ser que seja o dono dela. Após essa idade, quando a pessoa é desligada da empresa, começa a ficar mais difícil conseguir uma nova vaga de emprego. Mas já existe um movimento para mudar essa realidade e fazer uma conscientização das companhias, já que em torno de 2035, vamos ter mais idosos do que jovens. As organizações precisam entender, absorver e criar estratégias para manter e contratar pessoas mais velhas, porque em um futuro próximo pode ocorrer escassez de mão de obra.
Podemos dizer que as pessoas mais velhas são invisíveis para a sociedade?
Sim, principalmente em relação aos produtos e serviços. Por exemplo, conheci uma senhora que não gostava de ir à farmácia comprar xampu e condicionador. Isso porque estão disponíveis nas gôndolas diversos tipos de mercadoria e para vários tipos de cabelo. No entanto, não tem nada para alguém que já está na menopausa, com mais idade e precisa de cuidados específicos para os fios. É ignorar que existe uma faixa de consumidores que têm poder aquisitivo.
Como seria possível diminuir esse preconceito?
Quem já está mais próximo a esse público, já vem lutando bastante contra o preconceito. Os idosos são importantes, possuem o seu papel na sociedade e podem produzir muito. Precisamos ampliar a comunicação com a proposta de esclarecer o assunto e quebrar as barreiras.