De acordo com dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), considerando todos os jovens brasileiros de baixa renda (19,9 milhões), aproximadamente 24% (4,8 milhões) não frequentam a escola, não trabalham e não estão em busca de emprego, sobretudo, a partir dos 20 anos de idade.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) fez uma análise dos resultados da Pnad Contínua, em dezembro de 2022, e apontou que a principal razão para a quantidade de jovens nessa situação é a necessidade de cuidar dos afazeres domésticos, seja dos filhos ou de outros parentes (40%).
Para entender mais sobre esse assunto, o Edição do Brasil conversou com Ródinei Páscoa Amélio, professor de Sociologia da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE-MG) e presidente do Sindicato dos Sociólogos de Minas Gerais (SINDS-MG).
Qual é a principal consequência para a sociedade dessas dificuldades vividas pelos jovens de baixa renda?
As novas gerações sempre tiveram um papel decisivo nas mudanças sociais a cada período histórico devido à sua criatividade e inovação. A falta de inclusão dos jovens de baixa renda contribui para a intensificação da desigualdade social, o que é alarmante em um país como o Brasil, onde temos a maioria da população com salário ínfimo e a concentração da riqueza nas mãos de alguns poucos indivíduos.
Além da desigualdade social, a pandemia da COVID-19 também teve impacto nesses resultados?
Certamente, a crise sanitária acentuou questões já existentes na estrutura social, não só no Brasil, como também em diversas outras nações. Há notícias de que o continente africano, por exemplo, é um dos que mais sofreu abalos sociais devido à pandemia da COVID-19.
Como isso afeta os adolescentes na vida adulta?
Sem uma intervenção efetiva do Estado os jovens ficam à mercê da própria sorte. Recorrem à economia
informal, onde permanecem por mais tempo, porque os cursos de qualificação profissional são caros e inacessíveis. A dificuldade para trabalhar e estudar pode ocasionar um sentimento de não autorrealização profissional e financeira. Além disso, as empresas geralmente preferem oferecer oportunidades de emprego para quem tem experiência na área.
Quais ações o governo e os jovens devem tomar para tentar mudar esse índice?
Os desafios na educação são muitos. Não olhar para os jovens conhecidos como a geração “nem-nem”, ou seja, que não trabalham e nem estudam, é um erro político e social grave. Nós temos um novo governo e acredito que vamos
caminhar em direção à inclusão social.
Prioritariamente, defendo uma educação básica de qualidade em todas as escolas públicas. Os adolescentes devem aproveitar o suporte social que eles têm, seja a merenda escolar, uma organização não governamental (ONG) que ofereça algum serviço, o apoio intelectual dos professores ou a ajuda da coordenação pedagógica.
Sem trabalho e estudo é muito importante valorizar todo tipo de informação sobre empregos ou cursos específicos para aquela área que deseja. Outra ferramenta útil é manter o cadastro atualizado em instituições públicas ou banco de vagas. Os jovens devem verificar ainda se têm condições de empreender, mesmo dispondo de poucos recursos
para iniciar o próprio negócio.
Como as empresas podem ajudar a resolver o problema?
As empresas podem contribuir muito para enfrentar esta questão, oferecendo oportunidades de trabalho a jovens de baixa renda. Isso impacta positivamente tanto no bem-estar social da família daquele jovem quanto na economia nacional.