De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 0,62% em dezembro e fechou 2022 em 5,79%. O número ficou abaixo do registrado em 2021 (10,06%), porém, é a segunda vez consecutiva que o indicador estoura a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que no ano passado era de 3,5% e teto de 5%.
O resultado foi influenciado, principalmente, pelo grupo alimentação e bebidas (11,64%), com 2,41 pontos percentuais (p.p.) no acumulado do ano. Em seguida, saúde e cuidados pessoais, com 11,43% de variação e 1,42 p.p. de impacto. Os transportes (-1,29%) tiveram a maior queda e o efeito negativo mais intenso (-0,28 p.p.) entre os nove grupos pesquisados.
Para o economista Heldo Siqueira, o índice divulgado em 2022 surpreendeu positivamente. “Até a metade do ano, a expectativa era que o número fosse bem superior ao observado. Afinal, a inflação alcançou 12,13% em abril e estava acima de 10% até julho”.
Siqueira explica que a trajetória da inflação teve dois períodos diferentes no ano passado sobre a aceleração vinculada aos preços dos combustíveis e de alimentos. “O primeiro se manteve em alta até julho, quando o governo federal resolveu desonerar os impostos estaduais. Esta medida fez os custos diminuírem rapidamente, tendo uma redução na pressão inflacionária. Já com relação à elevação do valor dos alimentos, não houve uma política específica e eles ficaram bem acima da média de 11% ao longo de 2022”.
Ele ainda pontua que a tendência da inflação nos próximos meses é se estabilizar. “Mesmo assim, é preciso ver qual alternativa o novo governo vai dar para a questão dos combustíveis”.
Influências
A alimentação no domicílio (13,23%) exerceu absoluta influência na alta de 11,64% do grupo alimentação e bebidas. Os destaques foram a cebola (130,14%), que teve o maior aumento entre os 377 subitens que compõem o IPCA, e o leite longa vida (26,18%), que contribuiu com o maior impacto (0,17 p.p.) entre os alimentos para consumo em casa. Vale mencionar também a batata inglesa (51,92%), as frutas (24%) e o pão francês (18,03%).
“No caso da cebola, a alta está relacionada à redução da área plantada, ao aumento dos custos de produção e a questões climáticas. Já os preços do leite subiram de forma mais intensa entre março e julho de 2022, quando a elevação acumulada nos últimos 12 meses chegou a 77,84%. A partir de agosto, com a proximidade do fim do período de entressafra, os valores iniciaram uma sequência de quedas até o final do ano, sendo a mais expressiva delas em setembro (-13,71%)”, aponta o analista do IPCA, André Almeida.
Siqueira ainda acrescenta que os custos dos alimentos estavam em alta no mundo todo ao longo do ano passado. “Quando há aumento do dólar, a tendencia é de exportação da produção nacional para o mercado internacional. O Brasil poderia estar imune a este efeito, mas o país abriu mão em 2020 dos estoques reguladores de preços que poderiam arrefecer esse movimento”.
No grupo transportes, o maior impacto positivo (0,49 p.p.) veio do subitem emplacamento e licença (22,59%). Por outro lado, destaca-se a queda da gasolina (-25,78%), responsável pelo resultado negativo mais intenso (-1,70 p.p.) entre os 377 subitens que compõem o IPCA.
IPCA de dezembro
No último mês de 2022, a inflação variou 0,21 p.p. acima da taxa registrada em novembro. No mesmo período de 2021, a oscilação havia sido de 0,73%. Todos os produtos e serviços pesquisados tiveram alta, sendo as maiores nos grupos de saúde e cuidados pessoais (1,60%), que também teve o maior impacto (0,21 p.p.), e vestuário (1,52%). Transportes (0,21%) e habitação (0,20%) desaceleraram em relação a novembro, quando registraram 0,83% e 0,51%, respectivamente.
“A queda no preço da gasolina foi o principal fator para a desaceleração em transportes. Houve redução de mais de 6% no litro do produto nas distribuidoras”, destaca Almeida. Juntos, os grupos saúde e cuidados pessoais e alimentação e bebidas representaram 56% do impacto total do IPCA de dezembro.
