Uma pesquisa sobre o perfil dos profissionais brasileiros, realizada pela Catho, revela que colaboradores LGBTQIA+ ainda sofrem preconceito no ambiente de trabalho. Para 52% dos entrevistados pela empresa, a LGBTfobia acontece com frequência e ocasionalmente. De acordo com o levantamento, 45% das pessoas não falam sobre sua orientação sexual para ninguém do serviço, 33% comentam abertamente e 23% só para alguns colegas. Dentre os motivos apontados estão o receio de que isso possa atingir sua carreira profissional (18%) e o medo de sofrer preconceito (16%).
Um estudo do Center for Talent Innovation constatou que 33% das empresas existentes no Brasil não contratariam pessoas LGBTQIA+ para cargos de chefia. A pesquisa mostrou ainda que 41% dos funcionários dessa comunidade já sofreram algum tipo de discriminação em razão de sua orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho.
Para a consultora de RH, Karine Soares, combater a LGBTfobia no mercado de trabalho vai além de ações afirmativas. “É importante que as empresas se atentem a algumas práticas que podem melhorar o ambiente. O processo seletivo é, muitas vezes, o primeiro contato que as pessoas têm com a companhia. Desse modo, é fundamental que essa parte seja feita de forma inclusiva. Por exemplo, adaptar a linguagem na hora da divulgação das oportunidades e contar com vagas direcionadas aos candidatos LGBTQIA+”.
Ela acrescenta que criar treinamentos, apresentações ou promover palestras pode influenciar no desenvolvimento de algumas ideias dentro dos setores da empresa. “Devemos abandonar o pensamento de que o óbvio não precisa ser dito e apostar em educar e conscientizar as pessoas. É importante que todo corpo da instituição possa ter uma participação no processo de tornar o local inclusivo. Os comitês de diversidade ou grupos de afinidade, por exemplo, são maneiras de reunir e engajar funcionários com o objetivo de discutir o tema”.
Ainda de acordo com Karine, ter um ambiente corporativo igualitário é uma necessidade das instituições. “Assim, uma empresa diversa tem influência direta tanto nos colaboradores como na forma que ela é vista por todos. Construir uma companhia por meio da representatividade torna os lugares justos e alinhados com os atuais objetivos do mercado, além de abrir espaço para talentos que hoje podem não ser vistos no mercado de trabalho”.
O gestor de marketing Lúcio Magalhães diz que, muitas vezes, a exclusão que essa população sofre desde a sua infância os impede de traçar um caminho de qualidade. “Em alguns casos, o resultado é uma má formação profissional e falta de oportunidade de emprego formal. Nas áreas em que o machismo é mais presente, muitos precisam esconder a orientação sexual ou podem não ter o respeito dos colegas e serem alvo de chacotas. Creio que a maioria segue para ramos, como salões de cabeleireiros, moda, maquiadores, designers, promoters, artistas ou algo relacionado com a área de comunicação, pois se sentem mais acolhidos. Já fui taxado de ‘pouco firme’ por ser gay. Diziam que eu lidava com as coisas de ‘modo feminino’, como se isso fosse algo pejorativo”.
Magalhães afirma que para os gays com trejeitos femininos, pessoas trans e as lésbicas com aparência masculina, o desafio é ainda maior. “São alvos fáceis de LGBTfobia já na entrevista de emprego, podem ter todos os requisitos da vaga, mas, na maioria das vezes, são dispensados. E, quando são contratados, é frequente que sejam obrigados a seguir normas sociais, ou seja, são instruídos a não falar ou a se vestir de maneira que oculte sua identidade de gênero e sexualidade. Isso pode provocar um desconforto tão grande que, pela pressão sofrida, não aguentam e desistem da vaga”, conclui.