Com o fortalecimento da digitalização de processos entre os mais diversos mercados e a evolução da transformação digital para as empresas, o ramo de Tecnologia da Informação (TI) sofreu valorização. Segundo dados do estudo IDC Predictions Brazil, o setor deve crescer cerca de 10,6% ainda este ano. Além disso, a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) aponta que o Brasil ocupa o 10º lugar no ranking dos países com o maior mercado do mundo no segmento da tecnologia.
Contudo, a exigência por profissionais qualificados também vem aumentado e a formação de especialistas na área já é insuficiente. De acordo com estudo da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom), realizado em 2021, o país terá uma demanda de 797 mil profissionais de TI até 2025, logo, seria necessário formar 159,4 mil por ano para que a meta fosse atingida. Atualmente, porém, apenas 53 mil pessoas são qualificadas anualmente para trabalhar na área.
Para o diretor executivo de uma empresa de serviços de informática, Vinícius Carvalho, esse déficit está atrasando o Brasil em relação a outros países e afetando não somente o setor de desenvolvimento e programação. “A área de tecnologia tem grande responsabilidade na sustentação e desenvolvimento de empresas. Existem outras áreas, como a de infraestrutura e business intelligence, por exemplo, que são responsáveis pela comunicação entre os computadores e sistemas, pela gestão da informação e fornecimento de dados para apoiar o time de gestão da empresa nas tomadas de decisão. Todos esses setores estão sofrendo com a falta de profissionais qualificados e, com isso, todo o desenvolvimento do mercado brasileiro é afetado”.
Para Carvalho, parte dessa falta de profissionais se deve ao fato de que empresas brasileiras precisam competir com instituições internacionais, que pagam os salários em moedas mais valorizadas que o real e oferecem o formato 100% home office, fazendo com que o trabalhador nem precise deixar o Brasil. “A chave para ganhar essa competição é oferecer ao colaborador vantagens adicionais, além do salário. Criar oportunidades que possuem boa remuneração e benefícios, como custeio de estudo, certificações adicionais, plano de carreira, benefícios da CLT, bonificação por resultado, descontos em academias e demais serviços”.
O diretor executivo acredita que é importante furar a bolha e introduzir o mercado de tecnologia para mais pessoas. “Do ponto de vista do setor privado, as empresas devem entender que partir para a área da educação é fundamental. Devemos desenvolver treinamentos e cursos sobre os serviços e tecnologias que nós mesmos utilizamos, disponibilizar isso para a sociedade e formar esses profissionais. Do ponto de vista sócio-político, acredito que é necessário voltar esforços para a criação de escolas técnicas e o desenvolvimento acadêmico de qualidade em universidades públicas. Essa interação empresa-escola é fundamental para atualizar o ensino técnico sobre as necessidades do mercado e adequar a visão do profissional ao contexto atual”.
O programador Caio Rodrigues diz que muitas organizações desperdiçam a maior parte do tempo de seus trabalhadores em tarefas erradas e comunicação deficiente. “Companhias brasileiras deveriam proporcionar vagas com a promoção de um ambiente que favoreça o crescimento profissional e o reconhecimento dos colaboradores, horários flexíveis, sem acúmulos de funções, salários de acordo com o mercado, incentivo ao home office e treinamentos, pois a competição com outras empresas que oferecem isso tudo e, ainda, pagam em euro ou dólar faz com que essa escassez de profissionais no Brasil só aumente”.
Ele ressalta que o mercado pode ser elitista e pouco inclusivo, sendo um dos fatores que requerem atenção e mudanças. “É preciso construir programas de inclusão, dando apoio inclusive para ferramentas necessárias para uma formação de qualidade. Além disso, empresas precisam investir em sua própria identidade, estar alinhada à mesma missão e valores dos colaboradores para que cada profissional entenda o propósito de estar ali, criando um interesse real em fazer parte e crescer na companhia”.
Perfil
Ainda segundo a Brasscom, homens são 63% dos empregados no setor de tecnologia da informação e ocupam a maior parte dos cargos bem remunerados, como diretores e coordenadores, enquanto mulheres são maioria apenas em áreas como administração e nos setores financeiros e de recursos humanos. Em relação ao recorte racial, o estudo informa que brancos ou amarelos são 57,4% dos trabalhadores do setor (21,3% mulheres, 36,1% homens); pretos, pardos e indígenas são 30,4%, (19,1% homens e 11,3% mulheres); 12,2% aparecem como não classificados.