A falta de expectativa relacionada ao crescimento pífio do Brasil para os próximos anos e a polarização política da atualidade têm sido as principais causas apontadas por brasileiros que, nos últimos anos, estão migrando maciçamente para Portugal. Um levantamento realizado pelas autoridades do país lusitano aponta que mais de 250 mil brasileiros atravessaram o Atlântico em busca de uma vida mais segura, à procura de possibilitar um futuro próspero para seus familiares. Uma espécie de sonho dourado, especialmente para quem até agora estava amargando na fila do desemprego.
As autoridades brasileiras não devem comemorar esse cenário, afinal, essas transferências ocasionaram R$ 535 milhões, de janeiro a março deste ano, a menos para o nosso país. Quando um cidadão resolve deixar a sua pátria está sinalizando a falta de esperança no futuro.
Está claro que os migrantes são pessoas em busca de serviço e ganhos financeiros melhores. Assim, poucos são turistas abastados capazes de desfrutar das belas e bucólicas passagens nas cidades portuguesas.
Dados do Banco Central e também do Observatório de Migrações apontam que, de todos os recursos enviados aos países de origem estrangeira, provindos de quem vive em Portugal, metade pertence a brasileiros. Os especialistas explicam que isso representa um terço de todos os estrangeiros oficialmente registrados no território luso. Em geral, se trata de trabalhadores menos qualificados, embora existam também alguns profissionais de nível superior, empresários, aposentados, empreendedores e nômades digitais.
Desalentados de expectativa em relação ao crescimento econômico, e naturalmente, em sua aposta na criação de novas oportunidades e empregos qualificados, essas pessoas avaliam que o Brasil deverá crescer no máximo 0,5% em 2023. Para eles, independentemente de quem venha vencer as eleições presidenciais deste ano, esse desenvolvimento sofrível tende a ser uma realidade. Existe uma razão preponderante para a decisão de migração em massa: o salário pago em Portugal é de R$ 3,8 mil, ou seja, bem acima da nossa média nacional. Assim, o país coirmão termina sendo uma alternativa para se projetar um nível melhor de vida, além de ser uma porta de fácil acesso à Europa, sobretudo para quem quer adquirir o direito de residência fixa.
Ao avaliar as informações pertinentes ao tema, o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Ricardo Rocha, lembra que há um conjunto de fatores que estimulam os brasileiros a migrar para aquela nação, e que não só econômicos. “Por lá, o clima não é tão frio no inverno como no restante da Europa. Ademais, a cultura brasileira é parecida com a portuguesa e, do ponto de vista de segurança pública, tudo é diferente, pois as pessoas podem transitar tranquilamente nas ruas, diuturnamente sem percalços”, acrescenta. E veja bem, tudo isso aconteceu no exato momento das comemorações dos 200 anos de nossa Independência.