A inflação tem corroído a renda da população, sem falar na taxa de desemprego elevada, juros altos, endividamento e orçamento cada vez mais apertado. Esse é o retrato atual e preocupante do Brasil devido à crise econômica que persiste nos últimos anos. E, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), um em cada quatro brasileiros enfrenta o mesmo drama financeiro no fim do mês: a falta de dinheiro para conseguir pagar todas as contas. Além disso, mais da metade deles precisaram cortar algum gasto com lazer, deixaram de comprar roupas e sapatos e chegaram a desistir de viajar nas férias.
Na avaliação do presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, a pandemia de COVID-19 e outros desafios, como a guerra na Ucrânia, comprometeram a recuperação da economia e a retomada do crescimento no Brasil. “A aceleração da inflação levou a um novo ciclo de elevação de juros, o que desestimulou o consumo e os investimentos. Ao menos estamos diante de um cenário de recuperação do mercado de trabalho, com redução do desemprego e aumento do rendimento da população, o que nos dá uma perspectiva de superação, ainda que gradual, dessa série de dificuldades que as famílias estão enfrentando”, afirma.
De acordo com o levantamento, 44% dos entrevistados relatam que quase sempre ficam apertados, mas pagam as contas e não sobra nenhum dinheiro. Apenas 29% dizem que conseguem gerenciar bem as finanças e guardar um pouco quase todo mês. Já 19% dos respondentes deixam alguma conta para pagar no mês seguinte, 3% recorrem a ajudas ou empréstimos para quitar os débitos, 2% precisam entrar no cheque especial para honrar os compromissos e ainda 1% paga o mínimo da fatura do cartão e deixa o saldo para depois.
Corte de gastos
A situação econômica levou a maior parte da população (64%) a cortar gastos desde o início do ano. Com o orçamento apertado, 60% suspenderam o lazer, 58% deixaram de comprar roupas e sapatos e 57% chegaram a desistir de viajar nas férias.
Os entrevistados também reduziram o gasto com transporte particular (51%), desistiram de comprar ou reformar imóveis (50%) ou adquirir veículos (47%) e pararam de se alimentar fora de casa (45%).
Para outros grupos, a economia foi mais crítica e 25% disseram ter diminuído ou deixado de comprar remédios, enquanto 19% não pagaram o plano de saúde. A pesquisa mostrou ainda que 16% chegaram a vender bens para quitar dívidas, e 14% deixaram de pagar ou atrasaram o pagamento do aluguel ou da prestação do imóvel.
“O estudo mostra os efeitos da situação econômica do país nos hábitos da população. O aumento de preços de produtos como gás de cozinha, alimentos e combustível impacta diretamente no orçamento das famílias e isso reflete na redução do consumo de uma forma mais ampla”, destaca o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.
Para 42% do total de entrevistados, a situação econômica pessoal piorou nos últimos 3 meses, enquanto 28% enxergaram alguma melhora. Ainda assim, 56% esperam alívio nas finanças até o fim do ano, e somente 16% estão pessimistas para o segundo semestre.