Guardar algum dinheiro é um luxo para poucos, principalmente, durante a pandemia de COVID-19 que desestabilizou a vida financeira de muita gente. Seja para uma emergência, realizar uma viagem, comprar um carro ou até mesmo uma casa, ter uma quantia reservada é algo considerado impossível para a maioria das pessoas, visto que mal conseguem fechar as contas no fim do mês.
Na avaliação do especialista em finanças Francisco Gonçalves, os principais fatores que contribuem para esse cenário são o desemprego e a crise econômica. “O que tenho observado é que mesmo aqueles que possuem renda e estão trabalhando têm problemas de gastar menos do que ganham. A razão disso é o orçamento das famílias que tem sido corroído pela alta no preço dos alimentos, energia elétrica e combustível”, explica.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação oficial do país, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acelerou 0,67% em junho e alcançou 11,89% nos últimos 12 meses. Os números foram influenciados, principalmente, pelo aumento de 0,80% no grupo de alimentação e bebidas, que tem grande peso no índice geral.
Outro indicador que corrobora para que os brasileiros não consigam guardar algum dinheiro é o fato de 30,2 milhões de pessoas sobreviverem com até um salário mínimo (R$ 1.212). As informações são de um estudo elaborado pela consultoria IDados, com base nos indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). Somado a isso, o país ainda concentra uma taxa de desemprego de 11,5% e atinge 10,6 milhões de cidadãos. Além de tudo, cerca de 66 milhões estão inadimplentes.
Cultura do “se sobrar”
Para Gonçalves, apesar da situação financeira desfavorável, a população brasileira conserva também a cultura do “poupar se sobrar”. “Essa ideia não funciona, porque dificilmente vai acontecer de restar alguma quantia do salário. Muitas pessoas têm esse pensamento e sempre postergam para o mês seguinte”.
Ainda segundo o especialista em finanças, a melhor estratégia é a de “guardar antes”. “Ao receber o salário, reserve pelo menos 10% do valor. Vai ser difícil logo no início, mas com o tempo você aprende a viver com os 90% restantes. Essa porcentagem será aumentada gradativamente até alcançar os 20%. É importante entender onde estão todos os gastos e distribuir melhor o dinheiro. Um método que pode auxiliar bastante é a regra do 50-30-20”, esclarece.
Ele acrescenta que muitas pessoas não têm o hábito de compreender o orçamento doméstico. “A educação financeira e o planejamento são imprescindíveis e tornam mais fácil priorizar como investir o dinheiro. Crie um objetivo para poupar e mantenha o foco. Não pense apenas no imediatismo e se preocupe também em acumular patrimônio para o futuro”, conclui.
Poupança forçada
A designer Letícia Mendes conta que foi promovida na empresa onde trabalha e passou a ganhar um salário mais alto. “Era um valor que nunca tinha recebido até então e pensei que conseguiria guardar uma boa parte dele. Mas foi engano meu, pois acabei gastando cada vez mais e não sobrava o suficiente para poupar”.
Ela diz que veio a pandemia de COVID-19 e teve receio de ser demitida. “Chegava no fim do mês e não tinha nem mais R$ 1. Com medo de perder o emprego e não ter nenhuma poupança, decidi tentar guardar alguma quantia do meu salário. Assisti vídeos pelas redes sociais sobre o assunto e comecei separando R$ 150 todo mês. Atualmente, consigo poupar R$ 300 e chego no final do ano com um bom dinheiro na conta”.