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Preocupação Mundial X Prevaricação Total

Há compreensível e justa preocupação mundial com o Brasil. Lembrando que Mussolini, Hitler e Erdogan (presidente turco) também foram eleitos, o sociólogo italiano Domenico de Masi alertou que os brasileiros “estão nas mãos de um ditador que conseguiu impor o seu comportamento idiota, que nos obriga a retomar debates passados, alguns situados na Idade Média”. Assegurou que “terraplanismo, resistência à vacinação e medidas básicas de segurança sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, descaso com o meio ambiente, tudo isso remete a um passado que considerávamos longínquo. Somos obrigados a recapitular consensos estabelecidos há décadas, como se nada tivéssemos aprendido”.

Nos Estados Unidos, membros do governo e congressistas receberam um dossiê, no qual acadêmicos e instituições da sociedade civil alertam sobre o que pode acontecer aqui no pleito de outubro e a necessidade de priorizar liberdades individuais e democracia, numa relação diplomática acima de interesses geopolíticos e comerciais. O documento expõe que “Bolsonaro está criando condições para um ambiente eleitoral muito instável e, se perder, o mundo deve lembrar o ataque de 6 janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA e estar preparado para testemunhar uma versão mais extrema disso no Brasil”. Ressalta que, “reminiscente da retórica de Trump em 2020, ele diz que pode não aceitar os resultados da eleição de 2022, criando um terreno fértil para desinformação e atos extremistas”.

De toda parte, à exceção de insidiosos regimes ditatoriais truculentos, populações, entidades e governos se estarrecem com o comportamento e ameaças de Bolsonaro, que agora passou a ser julgado também pelo Tribunal Internacional dos Povos, sob acusação de inúmeros crimes contra a humanidade. Nada disso aflige a quem garante que “só Deus o tira da cadeira presidencial”.

Em plena balbúrdia envolta em violências, rugidos, fake news, inflação e miséria, parte da população esquece que também haverá eleição para governos estaduais e Congresso. Não faltam estranhos pretendentes. Para o Senado em Santa Catarina, surgiu “o véio da Havan”, como se auto intitula Luciano Hang, um oligarca – termo que define empresários excepcionalmente ricos e socialmente influentes, geralmente conectados pessoalmente aos principais líderes políticos de um país. De forma sórdida mostrou a que se propõe politicamente: em 31 de maio, taxou o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, de hipócrita e bandido. Outro aspirante ao Senado, o jornalista José Carlos Bernardi, de São Paulo, propôs ensandecida solução econômica para o país: “É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte e se apropriar do poder econômico dos judeus, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha no pós-guerra.” O comentário foi na Jovem Pan, emissora preferida do armamentista presidente que, em 24 de maio, parabenizou a Polícia Militar carioca pelas 22 mortes na Vila Cruzeiro. Também felicitando os autores da chacina e agradecendo porque “serão menos votos da esquerda”, o “cheque-man” Fabrício Queiróz garantiu que, com apoio da família da “Micheque”, será o deputado federal mais votado no Rio. Burlando toda lógica judicial, a esdrúxula lista inclui o brucutu deputado federal Daniel Silveira que, perdoado por Bolsonaro, tentará ser reeleito, e Roberto Jefferson, pretendendo se livrar da prisão domiciliar para disputar o governo do Rio.

Tudo que não pode e nem deve, acontece de fato no nosso país, em consonância com o desgoverno federal. Há exatamente um mês, 11 de maio, Bolsonaro defendeu que a inflação no Brasil, ao ultrapassar os 12%, “não está lá essas coisas, pois o quilo de picanha no Canadá custa o dobro do que aqui”. Opinião de especialista em picanha, adepto da japonesa wagyu, de R$1.799,99 o quilo. Nunca ouvi falar de ninguém, fora da “corte bolsonarista”, que degustou essa suposta delícia milionária. A carne é tão nobre que o governo (realeza) mantém contratado Joas do Prado Pereira, o Tchê churrasqueiro das estrelas. É ele quem a prepara para o presidente, família e apaniguados, até em festa infantil (aniversário da filha mais nova). Também presta seus serviços na mansão de R$6 milhões do filhote 01, senador Flávio. Por outro lado, milhões de brasileiros normais procuram açougues que doem ossos.

Enquanto a quase totalidade da população sofre para quitar faturas de cartão de crédito, existe um sem limite, com o qual não se paga nem num centavo – tudo por conta dos cofres do governo sustentado pelos altos impostos. Apenas os valores de cada mês o Portal da Transparência revela, mas não com o quê: sigilo pleno! O dono do cartão corporativo é sua excelência (argh) Jair Messias Bolsonaro, que sabe gastar muito. Ora se sabe! Em março de 2020 foram exatos R$1.933.120,22. Em dezembro de 2021, R$1.560.654,12. Usualmente ultrapassa um milhão de reais. Sem detalhamento, o cartão corporativo “assumiu” cerca de R$1,2 milhão das férias de Bolsonaro entre 18 de dezembro de 2020 e 05 de janeiro de 2021, com gastos de R$2,4 milhões, valor descoberto após requerimento do deputado federal Elias Vaz (PSB- -GO). No rol de 15 férias integrais ou parciais em três anos, nas do último janeiro o “descansado” economizou: só gastou R$899.374,60.

Usufruindo de palácios completos, tecnologia de ponta, aviões, carros, motos (até aquáticas), lanchas, segurança, criadagem, assistência médica total e muitos “etc. e tal” de graça, com o que será que gasta tanto, além dos agrados pessoais e festins? Suas bazófias e lambanças, não apenas financeiras, são protegidas por ordens de segredo e incluem até a família numeral, com sigilo assegurado por um século! Para quem desrespeita básicas leis de trânsito, pilotando sem capacete nas motociatas de campanha antecipada, toda ilegalidade vira “fichinha”. Mesmo assim, há milhões de pessoas para as quais “a ficha não caiu”!