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Pesquisas mostram dificuldades e falta de interesse de jovens pelos estudos na pandemia

67,6% dos pais precisaram ser mais ativos na educação após o início da COVID-19 | Foto: Divulgação

Uma pesquisa feita pela Piva Educacional revelou que 74,4% dos pais sofrem com a falta de interesse dos filhos pelos estudos e 57,6% já colocaram esses estudantes de castigo por conta disso. A análise também mostrou que a pandemia foi um agravante desta relação: 67,6% dos responsáveis precisaram ser mais ativos na educação após o início da COVID-19. Neste período, 67% deles recorreram a professores particulares ou reforço para auxiliar na aprendizagem.

Os dados foram obtidos por meio de um formulário respondido por mais de 1.500 famílias, com filhos entre 7 e 17 anos, durante o mês de janeiro. Bruno Piva, CEO da startup Piva Educacional, diz que os fatores que contribuem para esse desinteresse podem ser diversos. “Os problemas estão relacionados à falta de motivação, a dificuldades de entender a matéria, à inexistência de propósito nos estudos ou até mesmo à baixa autoestima. Tudo isso impacta e gera descaso pelo o que se ensina nas escolas”.

Ele reforça que hábitos que já eram prejudiciais, se intensificaram durante a crise sanitária. “Preguiça, preocupação e nervosismo, por exemplo, passaram a ser mais frequentes na vida dos estudantes. A falta de socialização com indivíduos da mesma idade e da dinâmica escolar também é uma forte causa. Aprendemos mais e melhor quando interagimos com pessoas e vivenciamos a experiência do trabalho coletivo. Por isso, esse foi um dos elementos que lesou o rendimento escolar. Algumas habilidades como o respeito a opiniões diferentes, o gerenciamento de conflitos, o saber ouvir e compartilhar ideias são aprendidas por meio da socialização. Em casa, nem sempre essa troca é rica e possível”.

Um estudo de comportamentos, realizado com jovens do Brasil de junho a setembro de 2020, pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostrou que mais de 60% dos adolescentes relataram ficar por mais de 4 horas em frente às telas de computadores, tablets ou celulares como lazer, além do tempo para as aulas a distância. Entre os adolescentes de 16 e 17 anos, o percentual alcança 70%.

Com a drástica mudança na rotina dos jovens, o dano na saúde física e mental também foi descrito, a taxa de adolescentes que demonstraram piora na qualidade do sono durante a pandemia foi de 36%, sendo que 23,9% começaram a ter problemas para dormir e 12,1% relataram que tinham dificuldades e elas pioraram. Na maioria das vezes ou sempre, sentir-se preocupado, nervoso ou mal-humorado foi dito por 48,7% dos meninos. Entre as meninas, o percentual foi de 61,6%.

Ainda foi citado pelos adolescentes, muita dificuldade em acompanhar as aulas de ensino a distância: 59% disseram ter falta de concentração, 38,3% carência de interação com os professores, 31,3% ausência de interação com amigos. Em relação ao entendimento do conteúdo das aulas, 47,8% dos jovens relataram estar entendendo pouco, e 15,8% afirmaram não estar entendendo nada.

A assistente de legalização, Kelly Rodrigues, mãe de um adolescente de 15 anos, estudante da rede municipal, diz que, no início do isolamento social, quando as escolas públicas ainda não ofereciam o ensino virtual, tentou estimular o interesse no filho. “Como eu trabalhava fora, não tinha muito tempo para cobrar dele mais empenho nos estudos. Porém, incentivava a fazer cursos na internet e estudar, mas sem sucesso, até que a prefeitura começou com o projeto de aulas on-line”.

Ela explica que o esquema de estudo remoto tem suas falhas, entretanto, que foi uma razão para que demandasse mais compromisso do filho. “Não era fácil, pois não entendia, muitas vezes, a matéria e como na escola tem os professores para esclarecerem dúvidas, é mais simples. De qualquer maneira, ainda assim foi um pretexto para que nós pudéssemos cobrar pelos deveres”.

Agora, na volta aos estudos presenciais, Kelly percebeu maior interesse por parte do filho. “Como ele saiu do ensino fundamental, vi empenho da parte dele que vai até a casa dos colegas para fazer trabalhos e aprender novas matérias do novo formato do ensino médio”.

O também estudante Bernardo Rocha, de 17 anos, diz que sentiu desmotivação na quarentena. “Eu estava perdendo a experiência do ensino médio, e sentia falta de passar tempo com meus amigos rindo e conversando, acho que muitos jovens também foram afetados por esse problema. Foi um desafio cuidar da saúde mental. Sentia uma exaustão, alguns dias não tinha cabeça para assistir aula e sentia meus amigos da mesma forma por vários motivos”.

De acordo com uma pesquisa de 2021 do Datafolha, encomendada pela Fundação Lemann, quando se comparava os resultados entre o grupo que havia voltado para o ensino presencial e o que ainda permanecia no ensino remoto, era perceptível que a reativação das escolas tinha causado efeitos positivos nos jovens. 58% dos pais disseram que os filhos que permaneciam em casa estavam desmotivados, já para quem tinha retornado à sala de aula, o número havia caído para 50%.