“No início, sentia só uma dormência nas pontas dos dedos, mas logo passou para as mãos e, depois, começaram as dores fortes e o inchaço. Os incômodos surgiram também nos braços, não aguentei mais, minha mão já estava deformada”, descreve Juliana Gabbi, 32, sobre os sintomas que a levaram a procurar um médico. Após exames, ela foi diagnosticada com síndrome do túnel do carpo (STC).
“A STC é uma neuropatia que causa compressão do nervo mediano, que passa por um canal chamado túnel do carpo, localizado no nível do punho”, explica Antonio Neder Filho, 2º vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM). Isso acaba levando o paciente a sentir dores, dormência, formigamento, fraqueza e alterações de destreza nos dedos e nas mãos que, na maioria das vezes, são piores à noite. De acordo com a SBCM, a dormência ou formigamento ocorrem com mais frequência no polegar, indicador, médio e anelar.
Considerada uma doença comum no mundo, a condição afeta, principalmente, o gênero feminino. “Estatísticas apontam que para cada 1 homem acometido, 8 mulheres são diagnosticadas com a condição, devido aos fatores de predisposição”, diz. Dados do Ministério do Trabalho e Previdência mostram que a STC é um dos principais problemas de saúde que afastaram as pessoas de suas ocupações em 2020: foram 17.355 benefícios concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Para o especialista, as causas podem estar relacionadas às alterações hormonais, especialmente, durante os períodos de gravidez, pós-parto e menopausa. “Também pode estar ligado a distúrbios metabólicos como a tireoide, diabetes e sequelas de fraturas da extremidade distal do rádio. Além disso, existe um tipo da síndrome chamada de idiopática em que não se determina a causa específica da doença, mas está atrelada a alterações anatômicas”.
Trabalhando em uma padaria, Juliana conta que chegava a dormir com gelo nas mãos durante a noite na tentativa de amenizar as dores. “Quando o trabalho exige demais, coloco as órteses e amanheço sem dores. Tenho muitas limitações, quando os incômodos pioram, levantar pesos e até varrer a casa já se tornam uma tortura. Hoje, faço fisioterapia e tomo injeção de corticoide, mas ainda dói”, afirma.
Dormência e dor foram os motivos que levaram a arquiteta da informação, Aline Câmara, 32, a procurar o médico. “Uso tala para dormir, cetoprofeno e nimesulida, mas não consegui realizar a fisioterapia por falta de tempo. Convivo com dores ao dirigir, não consigo esfregar panelas, pegar peso e tenho dificuldade de abrir garrafas e potes em geral. Já fui bitolada com isso, mas hoje me dou super bem, aceitei minhas limitações e minha família me ajuda muito”, conta.
Cansada da dormência, formigamento e dor constante nas palmas da mão, a supervisora pedagógica Raquel Squarcio, 55, realizou o procedimento cirúrgico há 2 meses. “Estou na expectativa da cirurgia sanar porque a fisioterapia não resolveu quase nada. Além disso, tomei vários remédios inflamatórios e fitoterápicos, analgésicos, pomadas e uso talas”, conta.
De acordo com o filho, a cura definitiva da síndrome só é possível com cirurgia. “Já o tratamento pode ser por meio de medicação para alívio da dor e vitamina B que pode ajudar a melhorar a condição do nervo. Fisioterapia, uso de corticoides e anti-inflamatórios não hormonais também podem auxiliar na redução do edema na região e atenuar sintomas. Mas, somente com cirurgia, o problema não volta”, completa. Para avaliação, é indicado procurar um ortopedista.
Ainda segundo ele, a principal consequência de quem ignora os sinais da patologia é a atrofia da musculatura da região tênar e a perda do movimento de antepulsão do polegar, dificultando a oponência deste dedo – o que permite a realização de tarefas que exigem destreza, como segurar objetos e colocar uma linha na agulha, por exemplo.
“Evitar a STC é difícil porque ela aparece devido ao desenvolvimento de patologias metabólicas e hormonais. Porém, controlar essas doenças pode ser uma forma de prevenção. Também pedimos para evitar dormir sobre as mãos, com elas debaixo do travesseiro ou com punhos dobrados. Por isso, recomendamos que os pacientes durmam com uma órtese ou tala para manter o punho em uma posição neutra durante o sono”, esclarece Filho.