A economia vai mal e, pelo que indica o levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, essa conta vai ser cobrada nas urnas. A pesquisa nacional apontou que os fatores mais importantes para o brasileiro na hora de escolher um presidente da República em 2022 serão geração de empregos (8,7) e recuperação econômica (8,6).
O estudo ouviu 2.008 pessoas e pediu a elas que avaliassem, de 0 a 10, a importância de temas ao votar em um candidato, como combate à corrupção (8,3), enfrentamento à pobreza (8,2), agilidade na vacinação (8,0) e número de mortos na pandemia (7,2).
O cientista político Joscimar Silva explica que não é a primeira vez que essas questões são caras ao brasileiro. “Em todas as eleições presidenciais, desde a redemocratização, a avaliação da economia pela opinião pública tem um peso importantíssimo na decisão do voto. Se o governo vai muito mal nessa gestão, a tendência é eleger a oposição. Opositores utilizam os problemas econômicos, especialmente emprego e renda, para atacar os governantes que tentam reeleição”, diz.
Atualmente, Dayse Pereira, 44, trabalha como diarista. Mas antes disso, era recepcionista em uma escola de idiomas. Pouco tempo depois do início da pandemia, o local fechou e ela foi dispensada. “Sinceramente, o que mais me desanima é que não tem adiantado formação porque simplesmente não tem vaga qualificada. Eu mesma tenho inglês e não acho outros trabalhos que compensam a ponto de largar minhas clientes”, desabafa.
Assim como ela, 14,8 milhões de pessoas não estão formalmente contratadas no mercado de trabalho, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para atender a dor dessa multidão, o escritor e cientista político Rudá Ricci aposta no populismo. “O governo tentará reduzir recursos de algum setor, até aqui considerado por ele como prioritário, para vitaminar políticas compensatórias ou de renda de suporte. Desde transferência de recursos de direitos trabalhistas para o Bolsa Família até taxação de lucros e dividendos. Bolsonaro se enredou no seu próprio discurso original antissistêmico. Cada vez mais, se vê em contradição e cercado pelos interesses privados e privatistas que o apoiaram”, acredita.
Silva concorda. “Numa tentativa de recuperar a sua imagem, o governo deve reservar ao ano eleitoral medidas econômicas populistas, como geração de emprego a partir da reativação de grandes obras e um retorno do auxílio emergencial, em valores iguais ou maiores aos de 2020. Porém, como não há uma política clara de desenvolvimento da infraestrutura nem mesmo de continuidade de uma política social atual, caso ocorram, elas estarão marcadas por uma profunda característica eleitoreira”, afirma.
Como recuperar a economia?
Para o economista e professor de comércio exterior Leandro Diniz, é preciso criar um ambiente de negócios em que as empresas cresçam sozinhas. “Independentemente de ideologia partidária, é vital que primeiro se garanta um forte pacto econômico a nível nacional que garanta crescimento real e não um subsidiado pelo governo federal, bastante combalido. Se o fomento para crescer for tirado do bolso público, ele não vai perdurar. É preciso um projeto para que os empresários possam, de fato, fazer investimentos, contratar e as companhias crescerem por si só, sem a necessidade de um subsídio”, avalia.
Ricci defende que o governo precisa ser rígido nessa retomada. “O empresariado brasileiro é atrasado, predatório e dependente do Estado. O Banco Mundial indica que o Brasil é o segundo país do mundo em sonegação de impostos. Se sabemos que 58% dos tributos recolhidos vêm de quem ganha até dois salários- -mínimos, já sabemos quem sonega. O que estou sugerindo é que sem uma retomada do papel do Estado, como regulador, orientador e indutor da economia nacional, não teremos como superar este período de estagnação produtiva e deterioração do mercado de trabalho. Precisamos retomar uma discussão estratégica sobre o desenvolvimento do país, com papel central na intervenção estatal”.
Silva argumenta que é urgente uma política redistributiva das riquezas geradas no Brasil. “Pessoas em risco de fome, e em condições precárias de vida, têm menos capacidade de estudar e trabalhar e mais dificuldades em gerar renda e movimentar a economia do país. É preciso dar condições financeiras mínimas para aumentar o consumo e a movimentação da economia local no interior do país. Isso é necessário também para retirar os milhares de cidadãos que hoje vivem nas ruas das grandes cidades brasileiras. Diferente do que dizem alguns comentaristas, uma renda básica cidadã estimula a geração de emprego e renda nos grandes e pequenos mercados das capitais e do interior. Além disso, amplia as possibilidades de acesso à educação para as gerações mais jovens, o que traz ganhos econômicos futuros para que possamos superar o modelo de dependência econômica do setor agrário”, diz.