Quem nunca ouviu dizer que o amor e o ódio andam lado a lado? Pesquisa realizada pela agência MindMiners prova que o clichê não se aplica somente às relações interpessoais, mas também a forma como cada um consome conteúdo audiovisual. Isso porque ao questionar os entrevistados sobre qual reality show da TV aberta brasileira as pessoas mais gostavam, 35% disseram Big Brother Brasil (BBB). Acontece que as respostas eram de múltiplas escolhas, e o programa da Globo também foi consagrado como o que os indivíduos menos gostam, novamente com 35%.
Sobre a preferência por programas deste gênero, 31% responderam assistir a realitys raramente, 29% ocasionalmente e 16% frequentemente. Outro tema abordado pela análise foi o que atrai o telespectador nesse tipo de conteúdo. Cerca de metade (49%) das pessoas afirmaram assistir pela competitividade entre os participantes, 35% pelas provas de superação, 32% conflitos e debates, 28% pelas histórias. Já o quesito aprendizados durante o programa e identificação com os competidores empataram com 25% cada.
Para o psicólogo Leonardo Morelli, quando o assunto é um programa de televisão, não há surpresa que as pessoas se dividam em contra ou a favor, ‘ódio ou amor’. O que o BBB apresenta é exatamente essa polarização atual da nossa sociedade. Até a questão política, de ser de esquerda ou de direita, tem afetado muito a nossa realidade”, afirma.
Apesar de realitys shows serem definidos como produções baseadas na vida ou no cotidiano de pessoas reais, Morelli explica que não é bem assim. “É importante que os indivíduos tenham a noção que o que ocorre lá dentro não é como a realidade que acontece aqui fora. O BBB é um jogo, no qual existe uma competição para se ganhar um prêmio. Aqui de fora, existe outro tipo de jogo, o da sobrevivência. Lá dentro é estimulado um tipo de concorrência entre aquelas pessoas, o que gera um aumento da agressividade”, esclarece.
Outra questão respondida pela pesquisa que merece destaque é quanto das cenas que assistimos afetam o nosso dia a dia. Para 37% dos entrevistados um reality show tem a capacidade de influenciar a opinião pública, enquanto 10% acreditam que não.
Para Morelli, podemos assistir e, ao mesmo tempo, questionar o que acontece ali dentro. “Há coisas interessantes para se aprender, nem tudo ali é ruim. Podemos refletir sobre diversas questões a partir do programa, como as diferenças de realidades devido à cor da pele, da sexualidade e de opiniões. Isso pode trazer enriquecimento desde que tenhamos um olhar crítico sob as situações expostas. Sem isso pode ser que tenhamos prejuízos porque vamos engolindo comportamentos como se fossem verdades, sem questionamentos e podemos acabar copiando ou tendo aquilo como um exemplo para nossa vida”, diz.
Ele afirma que o fascínio sobre este tipo de conteúdo tem explicação na natureza humana. “O homem sempre gostou da polemização, da tragédia e do caos da fofoca como uma forma de se sentir bem. Quando o BBB mostra esses lados, eu me afasto dos meus problemas e foco nos defeitos dos outros. Mas, novamente, aquilo não é a realidade, aquilo é a representação de uma parte do social. Além disso, até onde o que ocorre ali dentro é verdadeiro? Quanto ali não tem manipulação para confrontar ou criar um público? Portanto, uma visão pela metade”, reflete.