Solidariedade foi a palavra de 2020. Prova disso é que o Vakinha, site de doações on-line do Brasil, teve uma alta de 166% nas contribuições. Enquanto que em 2019 foram registradas 1,2 milhão de donativos, no ano passado, o número saltou para 3,2 milhões. Além disso, 2020 teve um total de 800 mil campanhas de arrecadação abertas, um crescimento de 100% se comparado a 2019, que registrou 400 mil.
A pandemia do novo coronavírus teve grande impacto nesse aumento. Para o SEO do Vakinha, Luiz Felipe Gheller, o brasileiro respondeu a esse fenômeno com empatia aos que foram mais prejudicados pelo recuo econômico causado pela crise sanitária. “Todo o cenário caótico do último ano certamente despertou mais o lado solidário do brasileiro. Acredito que muitos dos que estavam em situação financeira estável se viram tocados pelas causas daqueles que mais precisavam”, conta.
Prova disso é que o número de campanhas saltou de 196 mil para mais de 379 mil entre março e agosto de 2020, época que marcou o início da pandemia no Brasil. Em paralelo, as arrecadações também cresceram: R$ 15 milhões em vaquinhas criadas a partir do coronavírus nesse mesmo período.
Solidariedade sem fronteiras
Vivendo em Portugal desde 2017, o casal Vinicius Cerutti e Ana Carolina Ferreira enfrenta, atualmente, uma batalha contra o câncer. Tudo começou quando ele foi diagnosticado com um tipo de doença chamada mesotelioma peritoneal. “Trata-se de uma membrana que reveste todos os órgãos do abdômen. É extremamente raro e, até o momento, não se tem estudos que falem sobre o tratamento dele”, explica Ana.
Ela recorda que os sinais apareceram em 2018 em forma de diarreia e dores no estômago. “A princípio achamos que poderia ter sido algo que ele comeu. Vinicius ficou 30 dias passando mal e depois um mês internado. Por fim, fizeram uma biopsia e recebemos o diagnóstico. No caso dele, poderia ser tratado com cirurgia. Enquanto aguardava a operação, ele fez um ano de quimioterapia”.
Ana explica que os médicos ficaram satisfeitos após a operação. “Foi preciso retirar alguns órgãos como o baço, vesícula e apêndice. Mas o resultado foi promissor. A cirurgia aconteceu em 2020, até então Vinicius estava bem, mas, em outubro, apresentou um problema próximo ao pulmão, chamado pneumotórax. Após isso, descobrimos uma bactéria que, mesmo tratada, deixou alguns sintomas”.
O quadro foi se agravando, porém, a causa demorou a ser descoberta. Em um primeiro momento, o diagnóstico era de infecção. “No início de dezembro eles perceberam que o câncer havia voltado. Como é pouco conhecido, é difícil saber como ele funciona. No caso do Vinícius, retornou de maneira bem agressiva”.
Em 2 meses a doença se espalhou e comprometeu o intestino e tubo digestivo. “Por consequência disso, ele precisa de uma alimentação parentérica que é feita pela veia. No dia 7 de janeiro deste ano, ele foi internado e não saiu mais. Vinicius vai voltar a fazer quimioterapia no intuito de atrasar a doença e fazer com que ela regrida”.
Internet como aliada
Por consequência da COVID-19, o hospital em que Vinicius estava internado entrou em colapso. Por causa disso, ele precisou ser transferido para um particular. “Os médicos estavam esgotados, já não tinha mais espaço para as pessoas, havia filas de ambulância na porta. Por isso, ele não estava tendo a assistência que precisava, o que é compreensível, mas Vinicius estava sofrendo e eu também não podia ficar com ele”, explica Ana.
A transferência dele foi muito importante e já sinto uma grande diferença. “Internei-me com ele, não posso nem sair do quarto, mas poder estar junto é muito bom. Alguns sintomas já foram controlados. Agora a dificuldade tem sido controlar a dor, que é crônica”.
Entretanto, essa transferência trouxe uma grande dificuldade: o custo. Atualmente, para que ele permaneça internado a família gasta 3.500 euros, o que equivale a R$ 22.730. “É um valor muito elevado, nós não estamos trabalhando. Temos poucos familiares aqui, então está difícil manter as despesas”.
Para isso, várias ações entre amigos têm sido criadas, dentre elas, a vaquinha on-line. “Estamos contando com uma verdadeira corrente de apoio. Temos rifas de cestas de café da manhã, de dinheiro e outras coisas úteis”.
Esperança de voltar ao Brasil
Com a transferência para o hospital particular, o principal objetivo é trazê-lo de volta ao Brasil, o que ainda não é possível devido ao seu quadro. “E nós precisaremos de ajuda do governo. O Vinícius não consegue fazer um voo comercial mais. Ele precisa de um avião próprio que não tenha tanta pressão”.
A família agora busca maneiras de que a história seja ouvida pelas autoridades. “Se conseguirmos voltar para o nosso país, tudo fica mais fácil. Ele tem plano de saúde que cobre todo o tratamento. Como esposa, fico com uma sensação de impotência de não poder fazer mais por ele, mas tanto eu quanto nossos familiares temos muita esperança”.
A fé é o que tem movido todos que acompanham a luta de Vinicius. “Ele vai melhorar e conseguir voltar ao Brasil. E ainda desejamos muito realizar a nossa cerimônia de casamento que estava marcada para outubro do ano passado. O sentimento é de esperança de que iremos vencer mais uma vez”, conclui.
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