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Entenda os passos até a tão sonhada vacina contra o novo coronavírus chegar aos postos de saúde

O Natal está chegando e se todos pudessem pedir algo ao Papai Noel, o desejo da maioria seria a tão sonhada vacina contra a COVID-19. A imunização não parece algo tão impossível, afinal, em todo o mundo, os países se preparam para começar as campanhas de vacinação. Falta, porém, o mais importante: o fim dos testes clínicos e a aprovação pelas agências regulatórias de cada país. O Reino Unido já deu o primeiro passo. Começou, na última semana, a campanha de imunização com a vacina da Pfizer.

No Brasil, o imunizante da Universidade de Oxford distribuído pela AstraZeneca está sendo testado. Em São Paulo, a vacina Sinovac, produzida em parceria com os chineses e o Butantan, já tem acordo assinado de fornecimento. O governador do Estado, João Doria (PSDB), inclusive, fez um comunicado avisando que a vacinação começa dia 25 de janeiro. Até o fechamento desta edição, entretanto, o imunizante ainda não tinha o aval da Anvisa.

Muitos são os trâmites para que as vacinas cheguem aos postos de saúde. Será que o Brasil está no caminho certo para garantir a imunização dos brasileiros? O imunizante vai marcar o fim da pandemia? Para responder a essas e outras perguntas, o Edição do Brasil conversou com o epidemiologista José Geraldo Leite Ribeiro.

Atualmente existem vacinas que estão prontas para serem aplicadas na população?
Uma vacina só é considerada pronta quando é licenciada pela agência regulatória do país. Aqui no Brasil ainda não temos nenhum imunizante licenciado. Até o momento apenas o Reino Unido autorizou a vacina da Pfizer na última semana.

O Brasil lançou um planejamento para a vacinação. Nele, é indicado que a campanha começará em março de 2021, porém ainda não se sabe de qual laboratório será a vacina. Em sua opinião, será possível começar a imunização no prazo estipulado?
O planejamento lançado por Minas Gerais, pela Secretaria de Estado e também pelo Governo Federal é extremamente necessário. Antes de uma grande campanha é preciso comprar insumos e as seringas para aplicação. É importante avaliar se o seu pessoal é suficiente, além de ter os freezers para a conservação. Todos esses detalhes são revistos antes e, se tudo sair como o esperado, é possível iniciar uma campanha de vacinação em março.

Quais são os trâmites necessários para que a vacina saia do laboratório e chegue aos postos de saúde?

Após o encerramento da fase 3 de estudo clínico, todo resultado é enviado, no caso do Brasil, para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que vai analisar os resultados e, uma vez licenciado, o imunizante está liberado para sair do laboratório. Em um estado como Minas Gerais, que tem mais de 840 municípios, essa distribuição se dá de forma muito cuidadosa. Primeiro, a vacina é recebida em uma câmara de conservação central em Belo Horizonte, posteriormente distribuída em caixas apropriadas e caminhões frigoríficos para as nossas diretorias regionais de saúde que, dependendo da população a ser vacinada nas cidades, distribui para esses municípios. O Brasil tem tudo para fazer uma boa campanha porque está respeitando os tempos da vacina, ninguém está falando em imunizar antes do licenciamento, além disso, o país está se preparando antecipadamente. Somos um dos países mais experientes no mundo em fazer grandes campanhas de vacinação.

Temos vacinas sendo testadas no Brasil. Isso é um facilitador para que elas sejam aprovadas para distribuição aqui?
O fato das vacinas serem testadas no Brasil é um facilitador para a assinatura de convênios e de fornecimentos entre o país e esses produtores. Duas vacinas que estão sendo testadas aqui, a desenvolvida pela Universidade Oxford e distribuída pela AstraZeneca e a Sinovac, produzida em parceria com os chineses e o Butantan, já têm acordo firmado de fornecimento. Fora isso, tem também um convênio assinado de transferência de tecnologia, ou seja, sendo licenciadas pela Anvisa, além de receber um quantitativo, o Brasil terá o direito de produzi-las desde que tenha as condições necessárias para isso.

Como cada município e os estados podem atuar independente do governo federal para garantir a vacinação da população?
O Programa Nacional de Imunizações que existe há mais de 40 anos tem uma enorme experiência em lidar com campanhas de vacinação. Não considero que seja um bom caminho os municípios começarem a se movimentar por conta própria. Mesmo porque, a maioria das vacinas produzidas nesse início de 2021 será comprada pelos países e pelo Fundo Rotatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) que vai tentar distribuir vacina para todos os países. A exceção ficou com o Estado de São Paulo, porque lá se situa o Butantan que é um grande produtor de vacina, tem experiência nessa produção e possui convênio com a Sinovac. Então a capital paulista, talvez, tenha condições de fazer uma vacinação mais independente e o restante não.

A vacinação marca o fim da pandemia ou é preciso mais passos para ficarmos livres do coronavírus?
A vacina não irá marcar o fim da pandemia. Para que isso aconteça, seria necessário vacinar a maioria da população e isso não vai ser possível a princípio. Em 2021, vamos conseguir imunizar no máximo metade dos brasileiros. Isso pode ser o suficiente para que nós deixemos de ter casos graves e que as mortes se tornem raras, contudo, não será o bastante para deter a circulação do vírus.