Certamente, induzido pela cúpula do Partido Novo, sigla na qual é filiado, o governador Romeu Zema cedeu aos apelos dos companheiros e se envolveu com o pleito municipal, dedicando apoio a alguns nomes na disputa eleitoral de Belo Horizonte, Contagem e, especialmente, em Araxá, sua cidade natal. Não obteve sucesso e amargou uma derrota reveladora de como sua presença nesse tipo de empreitada deve ser medida milimetricamente para evitar tamanho dissabor. Tanto é verdade que, se for analisada a história mineira, talvez possamos afirmar ser esta a primeira vez que o prestígio do chefe do Executivo é tão pessimamente avaliado durante um pleito eleitoral. Esperto, o ex-governador Hélio Garcia, quando instigado, não apoiava e também não deixava seus secretários se envolverem em situação como tal, sob o argumento: se perder, quem perdeu foi o Palácio da Liberdade e se vencer, o pleito foi conquista graças ao prestígio do candidato local.
Analistas políticos avaliam que o governador está tolhido em suas ações por conta de regras e normas muito rígidas, com um forte viéis ideológico do Partido Novo. Para alguns amigos, a sua chance de se livrar disso foi quando o seu vice-governador Paulo Brant, alegando cerceamento em suas ações no início deste ano, resolveu rasgar a sua ficha de filiação. À época, propalou-se nos bastidores da Cidade Administrativa sobre uma possível tomada de decisão do governador Zema, que segundo fontes, esteve prestes a seguir o mesmo destino de Brant. No entanto, foi contido de fazê-lo, por pressão de companheiros, seguramente os mesmos que o induziram a participar, agora, neste mês de novembro, do pleito municipal, o encaminhando para amargar derrota.
O fato é que os conselheiros não tiveram as suas imagens expostas, enquanto o dirigente máximo do estado gravou vídeo, fez declaração de apoio e se comprometeu publicamente, o que ninguém pode negar. Ele protagonizou esse projeto na tentativa de se chegar a um resultado político positivo de seus favorecidos. Mas, como se constatou, tudo deu errado. Uma lástima. De resto, fica a lição: uma coisa é vencer o pleito, outra coisa é governar. Segundo as pesquisas, a administração Romeu Zema é bem avaliada e seus atos nunca foram contestados publicamente. Na Assembleia, há uma espécie de preocupação no sentido de preservar a imagem do governador, pelo fato de que ele está administrando um estado com as finanças combalidas.
Ocorre que nos próximos 2 anos, a gestão da era Zema terá necessariamente de caminhar para um rumo mais político. Os sábios da política mineira apostam: se ele não tomar essa atitude, dificilmente vai conseguir sucesso e ficaria isolado, caso decida pela reeleição. Aliás, sobre este tema há uma interrogação enorme. Consta dos meandros que o seu partido não permite a reeleição para cargos no poder Executivo em qualquer instância. Então, para poder levar esse projeto adiante, terá de promover alterações estatutárias, e neste caso, carece receber o beneplácito da direção nacional do Partido Novo. Outra encrenca à vista.
Em verdade, a partir do mês de janeiro, o prefeito Alexandre Kalil (PSD), reeleito com uma supervotação ainda no primeiro turno para mais um mandato, entrará em cena, apontando erros e deslizes do atual governador, buscando conquistar espaço perante a opinião pública. Vale dizer: vai incentivar uma oposição velada a Zema, para, em momento oportuno, poder confrontá-lo. Isso não é novidade para ninguém. Resta saber se os assessores da Cidade Administrativa vão entender essa força política de Kalil, que está sendo reconduzido ao posto de mandatário da capital com apoio de quase uma dezena de partidos, mostrando que aprendeu de imediato jogar o jogo para se manter no poder. Não resta alternativa ao governador. Ou ele concorda em praticar a política ou terá de pagar um preço alto quando buscar apoio para as eleições de 2022. Só que aí já vai ser tarde, pois como está escrito no ditado popular, “não adianta chorar sobre o leite derramado”.