Setembro foi marcado pelo alta no custo dos produtos da cesta básica. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, avançou 2,44% no acumulado em 12 meses até agosto deste ano. A alimentação no domicílio, que compõe o grupo de alimentos e bebidas, teve alta de 11,4%.
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontaram ainda que o preço do feijão mulatinho subiu 32,6%, da abobrinha 46,8% e o da cebola 50,4%. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o óleo de soja chegou a ficar quase 31% mais caro. Mas o item que mais chamou a atenção foi o arroz que teve alta de quase 20%, chegando a custar R$ 40, o pacote de 5 quilos, em alguns lugares.
O economista Roberto Dumas explica que o arroz é uma commodity (produtos que funcionam como matéria-prima, produzidos em escala e que podem ser estocados sem perda de qualidade) agrícola. “O exportador ou produtor brasileiro têm duas opções: devido à depreciação cambial, o produto fica mais barato para exportar e, consequentemente, ele recebe mais dinheiro vendendo para fora. No caso de comercializar a commodity no Brasil, sua intenção é lucrar o mesmo que na exportação, por isso o valor sobe”.
A opção de vender mais caro faz com que o mercado interno não fique desabastecido. “Como ele ganha mais com a exportação, uma vez que o dólar passa por uma apreciação, para não desabastecer o mercado interno e ficarmos sem o produto, ele vende mais caro internamente para manter seu lucro”, esclarece Dumas.
Consequências
Ele explica que a alta já está tendo consequências. “A imediata é no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) que já subiu. Atualmente, o IPA corresponde a 60% do Índice Geral de Preços do Mercado (IGPM). O IGPM, por sua vez, é justamente o que indexa o contrato de aluguel depois que o imóvel está pronto e o contrato de venda do empreendimento”.
Com o IPA subindo, o IGPM também eleva. “E é necessário levar em consideração o momento que a economia passa, se ela estará aquecida o suficiente para que o aumento do IPA consiga ser repassado para o consumidor final. Por enquanto, não. Ou seja, o custo sobe, mas não estamos vendo isso acontecer no nível geral de preços”.
Por isso que, de acordo com o especialista, mesmo com o Índice Geral de Preços (IGP) rodando 12%, o IPCA segue a 2,1% ao ano. “Até porque se acontecer a tentativa de passar as altas para toda a cadeia de consumidores, dado que estamos em recessão econômica, ninguém vai aceitar”.
Solução
Dumas elucida que agora é difícil baixar o valor, haja visto que ninguém quer perder dinheiro. Entretanto, para ele, uma possível solução deve ser evitada: “envolver o governo, pois ele obrigaria que determinado percentual do arroz fosse vendido aqui dentro com lucro mínimo. A saída seria mais concorrência, mas é difícil, principalmente pelo fato das commodities serem em dólar”.
Ele acrescenta ainda que o preço de equilíbrio é aquele onde se iguala oferta e demanda. “Se tabelar o preço abaixo do de equilíbrio, a pessoa não vende mais e, com isso, vai acontecer uma falta de produto, como aconteceu no Plano Cruzado (conjunto de medidas econômicas, lançado pelo governo brasileiro em 28 de fevereiro de 1986, com base no decreto-lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986, sendo José Sarney o presidente da República e Dilson Funaro o ministro da Fazenda) ou como acontece atualmente na Argentina. A solução é sempre via mercado, se houver intervenção do governo, a situação tende a piorar”.
No dia 14 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer a seus apoiadores que o esperavam em frente ao Palácio da Alvorada que não vai tabelar o preço do arroz. “Não vai haver tabelamento de nada, não vai haver canetaço (sic), diminuição de tarifa na mão grande, como foi feito no passado. Obviamente temos a preocupação de combater possíveis excessos, mas ninguém vai tabelar nada e nem interferir no mercado. Isso já foi testado no passado e não deu certo”, garantiu.