Junto com o isolamento social devido à pandemia da COVID-19, milhões de pessoas pelo mundo todo precisaram abandonar o tradicionalíssimo hábito de beber com os amigos no bar. Sem festa, sem happyhour, sem passeio, a mesa do boteco foi substituída por telas compartilhadas, mas uma coisa não mudou, o copo continuou cheio. A confirmação disso é que serviços de entregas de bebidas alcoólicas por todo país têm registrado crescimento nas vendas.
Um levantamento sobre o consumo de bebidas alcoólicas mostrou que 94% das empresas da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) notaram que, desde 2015 até atualmente, o hábito de consumir bebidas em casa aumentou, em reflexo à crise econômica. A startup Bebida na Porta, criada em 2019 com a proposta de entregar em até 30 minutos pedidos de bebidas geladas, registrou um aumento de 80% nas vendas e
um faturamento 130% mais alto em abril que o mês anterior.
“Na quarentena, houve uma mudança no comportamento do consumidor. Antes, os pedidos eram feitos à noite e no começo da madrugada. Agora, o pico de pedidos de bebidas é feito logo no final da tarde, além disso, o ticket médio também aumentou de R$ 65-70
para R$ 75-80 por carrinho”, avalia Jessica Gordon, CEO e fundadora do serviço de delivery. Segundo ela, os produtos mais vendidos na plataforma são cerveja (65%) refrigerante (10%), água (8%) e vinho (5%).
Acostumada a vender, principalmente, para estabelecimentos comerciais, Carla Oliveira, cofundadora da loja colaborativa Brindisi Vinhos, também precisou se adaptar para colher os frutos dos novos hábitos dos quarentenados. “Tivemos duas situações muitos distintas. Primeiro, um aumento surpreendente na procura de compras B2C (para o consumidor final) em nossa loja on-line, tanto que nossas páginas e sites tinham movimento médio de 10 mil/mês e, agora, já passa de 100 mil visitações desde o início da quarentena. E, a nossa venda para parceiros B2B (para empresas) com queda
muito acentuada em função do fechamento dos restaurantes e empórios”, explica.
De acordo com a CEO, as vendas na internet atingiram o patamar de aumento de 600%.
“Antes, o canal on-line não era o principal, pois a loja física era praticamente 70% do faturamento. Por outro lado, as vendas B2B caíram por volta de 50%. E estamos divulgando os deliveries de nossos parceiros. Neste momento todo
apoio é necessário”, destaca Carla.
Estratégias como frete gratuito também foram adotadas. “Além de descontos nos vinhos e frete grátis, estamos investindo em conhecimento por meio de cursos on-line em lives com produtores e sommeliers. Os produtos mais vendidos são, principalmente,
kits que, em média, possuem 4 vinhos na faixa de R$ 200 a R$ 300, mantendo o ticket médio que tínhamos como prática na loja física”, acrescenta.
Outra plataforma digital para a compra de vinhos direcionada à pessoa física que viu seu faturamento crescer foi a Eniwine. “Nosso trabalho sempre foi facilitar o acesso a vinhos de qualidade de forma prática e personalizada”, afirma Marcelo Abrileri, fundador da plataforma. “Já estávamos registrando um aumento considerável
em meio à pandemia superior a 20%”, conta.
Há 16 anos no mercado, a cervejaria mineira Falke Bier enfrenta um momento único na pandemia e também viu no delivery a chance de manter suas vendas. “Houve uma queda brutal com o isolamento, 90% do nosso faturamento foi perdido, mas o serviço de entrega foi a grande salvação da Falke, é o que tem nos dado o mínimo oxigênio e sustenta os 10% da nossa venda”, afirma o sócio e um dos fundadores da cerveja, Marco Falcone.
A estratégia, segundo o empresário, foi implementar um aplicativo para vendas e investir em marketing nas redes sociais. “O avanço que o delivery atingiu
hoje é quase que 60% maior do que era antes do isolamento”, diz. O produto que tem mais saída, segundo o fundador, é a versão pilsen da marca. “Tem uma legião de fãs que consome de uma forma impressionante. Normalmente as vendas se concentram melhor na quinta, sexta e sábado”, comemora o empresário.
Beba com moderação
Preocupada com o aumento do consumo de álcool dentro dos lares, a Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) divulgou um folheto informativo com o tema “O álcool e a COVID-19: o que você precisa saber”. O material explica que o álcool é uma substância nociva que tem um efeito adverso em quase todos os órgãos do corpo.
“O uso do álcool, sobretudo excessivo, debilita o sistema imunológico e, assim, reduz a capacidade de enfrentar doenças infecciosas. Alias, esse é um fator de risco para a
síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), uma das complicações mais graves da COVID-19. Ele também altera os pensamentos, o discernimento, a tomada de decisões e o comportamento, e está associado a lesões e à violência, incluída a interpessoal e seus diversos tipos, como a agressão por parceiro íntimo. Seu consumo pode intensificar o medo, a ansiedade e a depressão, sobretudo quando as pessoas estão isoladas, e não deve ser usado como estratégia de enfrentamento para lidar com o
stress.”, lê-se em um trecho.