A pandemia da COVID-19 trouxe inúmeras incertezas para a população mundial. O medo gira em torno da própria doença, mas também há quem esteja temendo o futuro por questões financeiras. Dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) apontam que a taxa de desemprego no Brasil, por exemplo, pode pular dos atuais 11,6% para 16,1% já nesse semestre. O que significa 5 milhões de pessoas perdendo seus postos de trabalho no país.
Mas, enquanto, a maioria das pessoas está impossibilitada de trabalhar e sem muita esperança, outras têm buscado maneiras de minimizar os impactos da pandemia no lugar onde vive.
Em Belo Horizonte, temos o exemplo do educador financeiro Júlio Fessô. Ele tem movimentado o Morro do Papagaio, comunidade onde vive, com ações solidárias que visam, além de ajudar o próximo, conscientizar a população sobre os cuidados necessários para se proteger do coronavírus. “São diversas iniciativas. Desde colar cartazes informativos, fazer panfletagem e passar com carro de som tocando músicas feitas na favela sobre o tema, até a arrecadação de alimentos não perecíveis, produtos de higiene pessoal e de limpeza bem como matéria-prima para confeccionar as máscaras de pano”.
As iniciativas também envolvem grupos específicos da comunidade. “Para as crianças, estamos distribuindo kits para colorir e sabonetes para que elas incentivem os adultos a lavarem as mãos como aprendem na escola. Já para os idosos, que fazem parte do grupo de risco, estamos entregando máscaras e fazendo avaliação da saúde. Para os trabalhadores, também entregamos máscaras e álcool em gel”.
O educador reforça a importância do projeto. “É preciso falar a linguagem da favela, uma vez que, quando começamos, as recomendações de saúde eram apenas para a classe média. É muito difícil fazer isolamento social nas favelas. O provedor, ou provedora – grande maioria -, não vai poder evitar aglomerações, porque precisa pegar o ônibus lotado para trabalhar. As crianças ficam soltas na rua. As estratégias precisam ser outras porque a galera do morro não dispõe dos mesmos recursos que a do asfalto”.
Presente inesperado
A maquiadora Amanda Silva* tinha direito a pegar a cesta básica concedida pela Prefeitura de Belo Horizonte por ter um filho estudando em escola municipal. No entanto, ela não pegaria o auxílio, a princípio, por estar com a dispensa cheia, mas mudou de ideia e decidiu pegar e doar. “Graças a Deus, não estou precisando, porém pensei que outra família poderia usufruir dela”.
Ela conta que quando doou a cesta básica, publicou em alguns grupos, sem dizer qual seria a ajuda, e uma pessoa a procurou. “Ela é autônoma e o filho tem alergia a leite, por isso, precisa de um especial e que é muito caro. Ela tentou substituir, mas não conseguiu. Fiquei pensando em como ajudar. Financeiramente, eu não poderia. Então, decidi fazer uma rifa com uns desapegos aqui em casa e perguntei se ela se importaria de receber a ajuda dessa forma. Ela disse que não e ainda me contou que, no dia que fiz contato, era aniversário dela e que ela tinha pedido a Deus para mandar alguma luz”, diz.
Cuidando de quem cuida
A terapeuta holística Olívia de Castro se cadastrou em um projeto de atendimento on-line e gratuito voltado a profissionais da linha de frente do Sistema Único de Saúde (SUS) contra o coronavírus. “O projeto foi criado no Rio Grande do Sul. Os profissionais fazem o cadastro no site e passam a ter acesso à lista de serviços disponíveis. A partir daí, entram em contato conosco. Por enquanto, a ideia está voltada aos profissionais do RS, mas atendi uma médica do Rio de Janeiro que me procurou após ver a divulgação no Instagram”.
Pela consulta, ela envia o reiki, que trabalha o equilíbrio da pessoa no físico, emocional e mental, aumenta a imunidade e dissipa tensões e preocupações. Ela também trabalha com essência floral que atua contra o medo e sobrecarga, além da aromaterapia, que é possível usar no consultório e beneficiar tanto o profissional quanto o paciente, visto que há óleos essenciais que relaxam.
Ela adiciona que essa fonte de apoio propicia bem-estar. “Muitos dos profissionais da área da saúde estão num nível extremo de ansiedade e angústia pelo coronavírus. Nessas terapias, acolhemos seus medos e eles podem extravasar. É um cuidado com quem cuida da gente. O trabalho deles é muito pesado e eles estão com medo de se contaminarem e passarem o vírus para os familiares pela fata de equipamento de proteção”.
A terapeuta está disponível para trazer o projeto a Belo Horizonte, atendendo os profissionais do SUS daqui. Para ter acesso, essas pessoas devem acessar o site, clicar em “quero apoio”, selecioná-la no mapa e realizar o contato.
* A pedido do entrevistado, o nome foi alterado.