Os 12 feriados prolongados previstos no calendário de 2020 – quase o dobro de datas emendáveis de 2019, que teve 5 – empolgava o setor de turismo e serviços de todo o país. Isso porque, enquanto o brasileiro descansa na sua escapadinha de feriado, uma cadeia de segmentos gira para atendê-lo: serviços de transporte, hotéis, restaurantes, agências de viagens, guias de turismo, dentre outros.
Entretanto, as portas que a pandemia fechou, colocaram essas tradicionais datas em xeque. Com tantos dias com grande parte do comércio parado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, sem especificar quando ou como, disse a representante do setor varejista, durante uma live, que já havia autorizado a antecipação dos feriados para o período de isolamento social. O deputado federal Gilson Marques (Novo-SC) protocolou um o Projeto de Lei nº 986/2020, que prevê essa antecipação das datas comemorativas – com exceção apenas dos dias 25 de dezembro e 1º de janeiro.
“Por um lado, a antecipação é motivada por conta do impacto causado do número de feriados no ano em todo o setor produtivo, principalmente, no terciário e varejista. Feriados nacionais, estaduais e municipais acabam reduzindo o número de dias em que o estabelecimento pode operar. O dia sem abrir, para um comércio do varejo, é perdido em termos de receita, variando de acordo com magnitude, região, etc”, explica Guilherme Almeida, economista-chefe da Fecomércio MG.
Porém, o que acalenta um segmento, aflige outro. “A antecipação seria para amenizar os efeitos das portas fechadas durante a pandemia, a dúvida é se esses micros e pequenos empresários, que representam 90% do varejo, vão conseguir passar por essa fase da quarentena. A cadeia de turismo, que engloba restaurantes, hotéis, comércio local e artesanato, gira em torno dos turistas e, provavelmente, essa antecipação vai gerar ainda mais impacto na receita dos hotéis e agências. Isso porque o turismo de lazer depende desses feriados que são oportunidades que as pessoas têm de realizar viagens e demandar serviços prestados por esse setor. Ou seja, se por um lado, há o benefício da antecipação observado pelo varejo, por outro tem o malefício que isso causa para cadeia de turismo”, completa Almeida.
Para se ter uma ideia, um estudo do Ministério do Turismo mostrou que, em 2019, 13,9 milhões de viagens domésticas aconteceram durante os feriados prolongados daquele ano, injetando R$ 28,84 bilhões na economia. Entre os destaques estavam o feriado de 1° de maio (Dia do Trabalho) – que movimentou R$ 9 bilhões em virtude de 4,5 milhões de viagens feitas no período – e de 12 de outubro (Dia de Nossa Senhora Aparecida), que resultou em 3,24 milhões de viagens, com impacto de R$ 6,7 bilhões ao país.
Segundo dados da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), o setor do turismo faturou em 2019, R$ 238,6 bilhões, considerando as atividades de hospedagem e similares, alimentação, transporte de passageiros, agências de viagens, cultura e lazer. O número de pessoas formalmente empregadas nas atividades turísticas totalizou 2.983.080 trabalhadores.
Com as medidas de isolamento social em vigor, cálculos da Abav indicaram que, no mês de março de 2020, os associados somavam uma taxa de cancelamento de viagens de 85%. Questionada sobre a possibilidade de antecipação dos feriados, a Abav declarou que esperaria a formalização da proposta com novo calendário e as datas ajustadas.
Como Belo Horizonte é uma cidade considerada de turismo de negócios, Guilherme Sanson, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais (Abih-MG), se mostra à favor da possível antecipação. “75% do turismo de BH é de negócios. Então, quando os feriados prolongados são colocados dentro da quarentena, tecnicamente, os dias úteis estão sendo aumentados em um segundo momento. Acho que é uma medida importante, é pouco, mas pelo menos aumenta o número de dias úteis pós-pandemia”, diz.
Entretanto, reconhece que a medida tem pesos diferentes para o turismo de lazer. “Ouro Preto, Mariana e Tiradentes que recebem muitos turistas na Paixão de Cristo estão com zero hóspedes”, diz. Na capital, a situação também é dramática. “O faturamento previsto para abril é zero. A receita dos empreendimentos que ainda estão abertos não vai passar de 10%”.
Segundo Sanson, a estimativa do setor é que 50% de todo o quadro de funcionários da capital sejam demitidos. “Sem contar os que fecharam efetivamente e demitiram todos. Só na capital mineira, 32 hotéis paralisados. Até o dia 15, a previsão é de que este número chegue a 50% de todos os hotéis de BH”. Segundo dados do Observatório do Turismo, em 2018, havia 311 estabelecimentos ligados à hospedagem em funcionamento na capital.