A “Síntese de Indicadores Sociais”, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou dados alarmantes. Um a cada cinco mineiros sobrevive em condições de pobreza. Segundo a pesquisa, 4,1 milhões de pessoas recebem no máximo R$ 420 mensais. Desses, 739 mil fecham o mês com apenas R$ 145 para despesas básicas como água, luz e comida.
A pesquisa do IBGE considerou a classificação para a pobreza extrema do Banco Mundial. Nesse caso, pessoas com rendimentos inferiores a US$ 1,90 por dia, o equivalente a cerca de R$ 145 mensais pelo método de paridade de poder de compra.
O Brasil atingiu nível recorde de pessoas vivendo em condições de miséria. Estima-se que 13,537 milhões de brasileiros estejam nessa situação. O país tem mais miseráveis do que a soma de todos os habitantes de nações como Portugal, Bélgica, Cuba ou Grécia.
No entanto, o pesquisador do IBGE, Leonardo Athias, esclarece que a análise divulgada – que avaliou o ano de 2018 – mostra mais estabilidade do que o aumento da pobreza. “Existe no Brasil um histórico de desigualdade desde que se têm indicadores sociais e a situação piorou com a crise econômica e o arrefecimento do Produto Interno Bruto (PIB). O país ainda não se recuperou da última recessão, o índice de desemprego segue em alta e a leve melhora foi proveniente de trabalho informal, o que não agrega tanto”, afirma.
Ele acrescenta que a pobreza é um fenômeno dimensional que está além da renda. “Ela diz também sobre o não acesso à educação, saúde, proteção social e inclusão digital. Entendemos a transmissão intergeracional da pobreza entre as gerações como uma dificuldade (pai pobre, filho pobre), porque não há investimento no capital humano para melhorar o futuro”.
A economista Márcia Medeiros Mota ressalta que nos resta torcer para que as políticas implantadas no Brasil retomem o crescimento econômico e sustentável, como a monetária, que apresenta a redução dos juros. É preciso investir em políticas para qualificação da mão de obra com intuito de atender as áreas que a demandam mais, como a de tecnologia”.
Ela elucida que os atuais índices geram impactos negativos para o cenário brasileiro. “Houve aumento da informalidade, muitos profissionais tiveram que se adaptar ao mercado para sobreviver e, infelizmente, tivemos uma elevação também da criminalidade”.
Márcia acredita que essas consequências são resultado de anos de crise. “Os índices apresentados pelo IBGE são provenientes desse descontrole. O desequilíbrio vem das contas públicas, ou seja, se gasta mais do que se ganha e, ao final, a conta não fecha”.
A economista finaliza dizendo que, no Brasil, 6,5% da população vive com apenas R$ 145 mensais contra 3,5% no estado. Já na linha de pobreza (recebimento máximo de R$ 420 por mês), Minas fica com 20% de sua população contra 25% do Brasil. “Apesar de estar numa situação mais confortável perante o panorama nacional, não temos do que nos orgulhar”.
Dias melhores
A caixa de supermercado Ana Lúcia Silva*, 36, recebe um salário de R$ 1.060 para sustentar 3 filhos pequenos. Ana Lúcia é mãe solo e precisa sobreviver com uma renda de cerca de R$ 212 por cabeça, visto que sua mãe também mora com ela e não tem renda para ajudar nas despesas. Nesse montante, a caixa precisa arcar com aluguel, água, luz e alimentação. “É quase impossível. Tenho feito das tripas coração. Minha sorte é ter a minha mãe comigo, senão precisaria pagar alguém para cuidar dos meus filhos enquanto trabalho. Levanto cedo e durmo tarde. É uma angústia diária”.
Para complementar a renda, Ana Lúcia também trabalha informalmente. “Às vezes, pego umas faxinas. Isso aumenta meu cansaço, mas garante a comida na mesa. Estou procurando outro emprego, que pague melhor ou que, pelo menos, dê mais benefícios”.
Com toda a luta, ela ainda se sente privilegiada por ter um emprego, saber ler e ter os filhos na escola. “Fico pensando: e quem não tem nem isso? É difícil até imaginar”.
*A pedido da personagem, seu nome foi alterado