Para muitos, o parcelamento parece uma saída quando o assunto é não deixar a compra para depois. A prática virou hábito no Brasil e a prova disso é que, segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), aproximadamente 82,7 milhões de brasileiros estão com pelo menos parte do orçamento comprometido com dívidas feitas no cartão de crédito, cartão de loja, crediário ou cheque pré-datado.
Cerca de 31% das pessoas ouvidas disseram estar livres de compras parceladas. O estudo apontou que 16% não souberam dizer quantas prestações tiveram que pagar no último mês. O tempo médio que os consumidores levam para quitar a compra parcelada é de 5 meses. Esse prazo mais do que dobra quanto se trata de empréstimos (11 meses) e financiamentos (12 meses).
A análise revelou ainda um dado alarmante: cerca de 13% das pessoas não acham necessário avaliar suas condições antes de parcelar alguma compra. O educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, explica que a prática pode ter sérias consequências. “Muitas vezes, a pessoa não sabe o quanto está devendo e o valor dos juros. É necessário calcular as despesas fixas e eventuais para ter noção se pode ou não fazer aquela parcela”.
Para Vignoli, o parcelamento está ligado à compra impulsiva. “Existe uma ansiedade e influência das redes sociais nesse cenário. O brasileiro tem o hábito de antecipar suas vontades e isso acaba gerando descontrole financeiro. É importante entender que não é proibido comprar a prestação, desde que haja um controle”.
A quantidade de parcelas também deve ser bem pensada. Segundo a pesquisa, 39% dos consumidores escolhem o menor número de prestação possível, enquanto que outros 34% optam sempre pelo maior número de vezes, caso não haja cobrança de juros. “O ideal é a pessoa optar por menos parcelas para conseguir saber o quanto tem comprometido e se planejar. Se ela joga muito para frente, não consegue se organizar”.
O educador financeiro acrescenta que a sazonalidade não pode ser esquecida na hora de fazer o planejamento. “A pessoa pode estar em uma condição financeira favorável agora, mas daqui há algum tempo não. Se ela se sente confiante para fazer a dívida, tem que estar atenta ao risco de não conseguir pagar o que deve no futuro, ficar negativada e não ter acesso ao crédito, o que interfere bastante na economia do país”.
Foi exatamente o que aconteceu com a atendente Larissa Gonçalves. Ela comprou um sofá e o parcelou de 12 vezes, mas após 4 meses, perdeu o emprego. “A primeira coisa que pensei foi: vou deixar de pagar, porque não sei quando terei o dinheiro novamente”.
A dívida se acumulou e, durante os 6 meses em que ficou fora do mercado, Larissa ficou de mãos atadas. “Quando consegui um novo emprego, negociei a dívida. Comprei o sofá na promoção, mas hoje estou pagando quase o dobro e, para não comprometer meu orçamento, evito fazer compras”.
Outros números
Durante a análise, 61% dos entrevistados assumiram ter feito alguma compra por impulso. Os principais itens adquiridos foram roupas, calçados e acessórios (22%), itens em supermercados (18%), idas a bares e restaurantes (15%) e compras de perfumes e cosméticos (13%). Para 38% deles, as lojas on-line são as que mais estimulam compras não planejadas, seguidos dos shopping centers (23%) e supermercados (22%).
A pesquisa mostrou ainda que, por muitas vezes, optar pelo pagamento a vista pode ser vantajoso. Cerca de 59% dos avaliados conseguiram algum desconto ao pagar em dinheiro ou débito, sendo que 34% pechincharam pelo desconto para pagamento no dinheiro e 15% receberam uma oferta do próprio lojista.