Dados divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) apontam que os aumentos nos preços de medicamentos e das tarifas de ônibus urbanos alavancaram o Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1), que mede a inflação percebida em famílias com renda entre 1 e 2,5 salários mínimos.
No último mês, o IPC-C1 subiu 0,73%, ficando 0,06 p.p. acima de março, quando o índice registrou taxa de 0,67%. Com esse resultado, o indicador acumula alta de 2,52% no ano e 5,86% nos últimos 12 meses. Já o IPC-Br, que mede a alta de preços para famílias com renda de 1 a 33 salários mínimos mensais teve aumento de 0,63% em abril contra 0,65% no mês anterior. A taxa do indicador nos últimos 12 meses ficou em 5,19%.
Para o mestre em administração com ênfase em cadeias produtivas Leandro Diniz, quem mais sofre com essas elevações, além das classes mais pobres, são os mais velhos. “O idoso precisa de mais medicamentos. Se o preço do remédio sobe, mas não há ganhos reais de aposentadoria, a pessoa tem maiores abalos nos seus rendimentos mensais. E quem mais faz uso do transporte público? Pessoas que dependem do metrô e do ônibus”, afirma.
Para ele, esses grupos sofrem dois impactos. “O primeiro é que o salário não acompanha os aumentos. E o segundo é que os empresários, quando sentem o acréscimo do custo de transporte, começam a demitir quem precisa de mais de um vale-transporte. É uma ciranda bastante nociva”.
Na passagem de março para abril, das oito classes de despesa componentes do índice, sete apresentaram aumento em suas taxas de variação: Saúde e Cuidados Pessoais (0,25% para 1,08%); Transportes (1,27% para 1,67%); Habitação (0,20% para 0,31%); Despesas Diversas (-0,15% para 0,24%); Educação, Leitura e Recreação (0,10% para 0,35%); Vestuário (0,61% para 0,71%) e Comunicação (-0,06% para -0,02%). Nessa lista, destaca-se o comportamento de medicamentos em geral (0,09% para 1,68%); tarifa de ônibus urbano (0,87% para 2,12%); móveis para residência (-0,20% para 0,76%); bilhete lotérico (1,29% para 31,63%); passagem aérea (-7,25% para -0,69%); acessórios do vestuário (0,81% para 1,93%) e tarifa de telefone residencial (-0,44% para -0,15%).
A taxa da inflação entre os mais pobres teria subido ainda mais, se não fosse o recuo do custo de alimentação (1,23% para 0,76%). Nessa classe de despesa, destaca-se o arroz e feijão (6,20% para -0,80%). Mas para Diniz, a bonança será curta. “Se há consecutivos aumentos de gasolina e diesel, daqui um tempo, o transporte vai impactar no alimento porque o frete fica mais caro. Isso gera uma cascata negativa, que vai inflacionar frete e onerar o produto final na gôndola”, resume.
Na família da doméstica Maria das Graça Santos, 56, esse peso foi sentido no bolso. Trabalhando informalmente como diarista, as contas não têm fechado. “Apesar de correr atrás, não tem emprego com carteira assinada. O que tenho feito para economizar é comprar o essencial de alimentação e cortei internet e as contas de celular”, diz a mãe de dois adolescentes.
De acordo com Diniz, o fim da política de valorização do salário mínimo deve agravar ainda mais esse cenário. “O que temos hoje é uma microreposição para o salário mínimo que, para o brasileiro, não vale nada, mas também afeta o empresário que não consegue repassar isso para seus preços”.