A infecção urinária é um problema extremamente comum entre as mulheres, atingindo cerca de 80% a 90% do sexo feminino, ou seja, são poucas as que nunca passaram por esse desconforto. Apesar de comum, alguns mitos e piadas cercam o tema. Entre eles, que a mulher com infecção urinária está com a vida sexual muito ativa. Mas será que isso tem relação? Ana Cristina Côrrea, ginecologista e membro da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), explica que sim.
“É importante deixar claro que a infecção urinária não é uma Doença Sexualmente Transmissível (DST). Ela tem relação com o sexo devido à frequência das atividades sexuais”, afirma Ana Cristina. Quem causa esse sofrimento, na maioria das vezes, são as bactérias Escherichia coli (E. coli), responsáveis pela cistite, nome dado à infecção ou inflamação na bexiga.
As E. coli são bactérias naturalmente presentes no intestino e uma série de fatores faz com que elas migrem para o sistema urinário em algumas mulheres depois de transar. “A bactéria está no intestino, mas é bom lembrar que está tudo muito próximo. Na mulher, a uretra (canal que conduz a urina) e a vagina ficam bem próximas do ânus”, explica. Portanto, o principal motivo da predisposição das mulheres à infecção na bexiga é um fator anatômico: a uretra masculina está longe do ânus, o que torna a aparição de infecções urinárias neles raras.
Segundo a ginecologista, a piada da mulher ativa sexualmente é velha. “Por isso, antigamente, era chamada de ‘cistite de lua de mel’, porque uma pessoa que nunca teve relação sexual, de repente, começa a fazer recorrentemente”, diz Ana Cristina. Foi o que aconteceu com M.C.*, 27 anos, logo em suas primeiras relações sexuais. “Eu era virgem e ocorreu tudo bem. Não tive nenhum problema e usamos camisinha, mas uma semana depois, comecei a sentir ardor na hora de fazer xixi, fora a sensação de estar sempre com a bexiga cheia”, conta. “Me bateu um desespero porque era inexperiente, mas sabia que, com certeza, tinha sido uma consequência do sexo, só não sabia que não era uma DST, que foi minha conclusão de cara”.
A experiência desconfortável também foi vivenciada mais de cinco vezes desde o ano passado pela W.T.*, de 22 anos. “Nos primeiros sintomas, já procuro o médico para que ele receite o antibiótico porque é uma sensação péssima”, diz. A primeira infecção urinária dela foi aos 19 anos. “Além de remédio para mim, dessa vez, ele também passou remédio para o meu namorado. E combinamos dele tomar alguns cuidados, por exemplo, limpar o pênis com o papel higiênico toda vez que urinar”.
A ginecologista esclarece que o tratamento, apesar de ser simples, é feito com antibióticos, por isso a mulher precisa procurar o médico o quanto antes. “Algumas mulheres têm predisposição a ter a infecção. Tenho pacientes que todas as vezes que transam apresentam os sintomas. Nesses casos, elas tomam o antibiótico antes mesmo da relação para prevenir”.
A infecção não é prioridade do sexo heterossexual, nas relações entre mulheres, o trânsito da E. coli também pode ocorrer. “Se houver penetração de algum instrumento sexual no ânus e, logo depois, na vagina, existe uma chance enorme. Por isso, que independente de relações homossexuais ou heterosexuais, orientamos a não ter relação sexual anal e depois vaginal, porque outras infecções também podem ser causadas”. De acordo com a ginecologista, a cistite, por não se tratar de uma DST, não pode ser evitada com o uso de camisinha, mas outras infecções sim. Por isso, a orientação é sempre trocar a camisinha quando houver intercalação do sexo anal com vaginal e vice-versa.
Durante a relação, pouco pode ser feito. “Existem orientações questionáveis, como fazer xixi ou lavar a vagina logo após a relação sexual. A gente orienta, mas não existe nada provado”. No cotidiano, porém, as dicas de ouro da ginecologista para prevenção são: beber muita água e não segurar o xixi.
*A pedido das entrevistadas, seus nomes foram ocultados.