Desde que me entendo por gente, a Fifa simplesmente se recusou a cogitar, discutir, ou mesmo especular sobre o uso de recursos tecnológicos para auxiliar os árbitros em lances polêmicos. Até então, o árbitro de futebol era deixado sozinho, numa arena cercada de leões, vendo-se obrigado a decidir em velocidade real, em frações de segundo, a legalidade ou não do lance. A ausência de uma segunda chance para rever determinada jogada abria brechas para injustiças originadas de interpretações erradas dos apitadores. Afinal, que jogador, time ou torcedor nunca se sentiu prejudicado pela arbitragem?
Só recentemente alguns recursos auxiliares começaram a ser utilizados, como o spray (uma espécie de espuma branca), para marcar a distância da barreira na falta, ou o chip na bola, para saber quando ela, de fato, cruza a linha do gol. E agora está sendo implantado o recurso do vídeo para ajudar em jogadas duvidosas, como marcações de pênalti, gols, cartão vermelho direto e/ou erro na identificação de jogadores na aplicação de cartões. Isso vai implicar numa mudança na própria dinâmica do jogo. Com o árbitro de vídeo, sem sombra de dúvidas, teremos outro olhar para as partidas de futebol.
No futebol, seguramente mais do que em qualquer outro esporte, o árbitro é um agente importante nas variações de dinâmica do jogo devido às inúmeras possibilidades e interpretações que a partida futebolística proporciona. Símbolo de autoridade e imparcialidade, o juiz de futebol é quem tem o papel de eliminar a violência improdutiva e as jogadas irregulares em nome da disciplina e da valorização do espetáculo. Além de decidir quando o jogo deve ser interrompido e recomeçado por meio da marcação de faltas, o árbitro é quem legitima o resultado de uma partida. Agora, com um reforço de peso. O árbitro de vídeo já vem se tornando realidade e está presente nas grandes competições estaduais, nacionais e internacionais. Exemplo disto serão as partidas das semifinais do nosso Campeonato Mineiro que, pela primeira vez em sua história, contará com a ajuda da tecnologia.
A implantação de recursos tecnológicos a meu ver, trará uma mudança radical na leitura do jogo de futebol. Para tanto, será necessário muita compreensão de todos os envolvidos neste apaixonante esporte. Jogadores, técnicos, dirigentes, árbitros, gestores de arbitragem, torcedores, enfim, todos precisam colaborar. Afinal, a ferramenta é nova. Vai passar por adaptações a fim de tornar o jogo mais dinâmico, sem grandes interrupções. Daí a importância de todos os atores envolvidos se interessarem mais sobre como funciona o protocolo do VAR (sigla em inglês do árbitro de vídeo) e, acima de tudo, respeitar suas diretrizes.
Ao longo do tempo, a história do futebol nos mostra diversas mudanças na forma como o jogo é disputado. Os esquemas táticos estão sempre mudando e se reciclando. A capacidade física dos jogadores se intensificou, e a velocidade do jogo evidentemente aumentou. Apenas a arbitragem é que permaneceu de certa forma, parada no tempo. O uso da tecnologia é uma tentativa válida nesse sentido, com o objetivo principal de trazer ainda mais justiça para o futebol.
*Desembargador do TJMG e Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo