O fim do ano chegou. Neste momento, você consegue pensar rápido em coisas ruins que te aconteceram? E boas? Certamente as lembranças desagradáveis vieram mais facilmente à mente. Já as felizes, precisaram de um esforço maior. Isso acontece porque damos mais atenção ao que não nos agradou. Algo que não deu certo em nossa vida gera um sentimento de culpa e pode nos tirar a felicidade.
A chegada de um novo ano passa a ser para muitos um recomeço, uma nova chance para recuperar a felicidade que ficou perdida em meio às dificuldades da vida. Mas será que essa busca depende somente de nós? O Edição do Brasil conversou com o psicólogo e especialista em gestão de pessoas, Frederico Curi, que explicou um pouco mais sobre os obstáculos que colocamos e como podemos aproveitar o novo ciclo para sermos felizes.
A busca da felicidade, de fato, depende de nós?
Enquanto não soubermos nossas motivações, termos noção de quem somos e aceitar nossos defeitos, não sabemos o que é felicidade. Afinal, ela depende de nós, vem de dentro. É uma questão de liberdade, a gente passa a não se importar com julgamentos alheios. Mas, sendo genuínos com nossa essência humana, automaticamente as pessoas terão uma boa harmonia conosco, vão querer interagir com quem somos. Quanto mais existe troca afetiva de forma verdadeira, mais seremos independentes e satisfeitos com a própria vida. Deixamos de ser refém dos rótulos que as pessoas colocam em nós com base nas nossas ações.
As pessoas costumam colocar obstáculos em sua felicidade?
Sim, porque são condicionadas pela sociedade a sempre olhar o lado negativo, por meio de competições materiais e disputa de ego. A gente nunca acha que o que temos é satisfatório. As dificuldades se tornam obstáculos ao invés de aprendizado. Muitas vezes a pessoa coloca a própria felicidade em jogo sem saber o porquê de estar triste. É uma realidade distorcida, não acreditamos que temos méritos o suficiente de acordo com a grama do vizinho. E, diante disso, começamos a cometer vários erros, o medo passa a ser estrutural e reclamamos o tempo todo. O ato de reclamar cria empecilhos para a felicidade. A gente veio ao mundo para viver desafios, senão a vida não teria sentido. Cabe a nós, nos conscientizarmos para retirar essas barreiras do caminho.
Por que ficamos tão reflexivos no fim do ano?
Devido ao significado que essa temporada tem. O fim do ano é um momento de confraternizar, mas chegamos em um consenso cultural de que é tempo de encontro e troca afetiva. E é nessa hora que acontece uma prestação de contas, que a gente quer mostrar para o outro que temos algo a oferecer. Começamos a refletir se estamos sendo sinceros conosco.
O ser humano tem uma necessidade de proteger o próprio ego. Daí se inicia um julgamento, até inconsciente, de como a gente se encontra diante da sociedade, o que conquistamos e no que falhamos. Começamos a querer entender no que erramos e no que podemos mudar. A partir disso, a gente consegue conceitualizar a felicidade: este ano fui ou não feliz?
Para muitos, 2018 foi difícil. Como não se culpar pelas coisas que deram errado?
2018 foi um ano conturbado em muitas camadas da sociedade. Desde questões políticas e econômicas até éticas. As relações humanas foram se perdendo com a banalização da família e do respeito ao próximo. A verdade é que sempre que alguma coisa parece não dar certo, nós temos que pensar o quanto somos merecedores do que deu certo. Temos que prestar atenção nos comportamentos e iniciativas que tivemos durante o ano. Fomos responsáveis por tudo de errado que aconteceu?
Além disso, é importante pensar a origem da nossa culpa. É um sentimento que nos mantém presos ao passado, na infância, a gente sempre é ensinado a sentir vergonha ao cometer erros e isso vem trazendo uma carga, pois as falhas passam a ser motivos de chacota. Mas errar é normal. É preciso sempre buscar fazer o que estiver em nosso alcance para acertar, mas se não acontece, o importante foi a tentativa. O ideal é trocar a culpa por responsabilidade, pois ela traz emoções positivas. Ela nos ajuda a entender que fazemos parte de um processo, mas não arcamos com o destino do planeta e das pessoas.
O início de um novo ano pode ser uma porta para a renovação? Como isso pode ser feito?
O começo de um novo ano ou de uma nova fase da vida de alguém, independentemente de como for a mudança pode ser uma renovação porque é quando se inicia uma reflexão das coisas que fizemos e tivemos méritos. A partir daí, decidimos quais comportamentos, iniciativas e práticas teremos em nossa vida diante disso. Além de refletir sobre o que é preciso deixar para trás. A mudança deve ser vista da seguinte forma: o que preciso retirar e o colocar? O ideal é fazer um resgate de acontecimentos, mas, principalmente, assumir o que deu errado e que somos humanos. A partir disso, rever as ações que nos levou ao erro, ao que nos tirou da curva e pôr em prática quais responsabilidades eu preciso ter para que essa nova fase seja melhor.
Como ser mais positivo em 2019?
Ser positivo é uma habilidade que todos nós podemos aprender. Vendo o melhor de cada situação, encontrando uma motivação que nos faça seguir. Criando metas, inspirações, hobbies e comemorando pequenas vitórias. A gente precisa apoiar as pessoas e buscar apoio. Temos que entender que cada dia que chega é uma nova possibilidade para se ter uma pequena renovação. O ano novo dá uma ideia muito mais clara disso, mas o dia a dia deve ser celebrado. E esquecer o sentimento de culpa, pois ele bloqueia nossa vida e isso não gera mudança nenhuma. Então, por mais ou menos extrovertidos que sejamos, nós podemos adquirir a habilidade de ser positivo diante dessas pequenas relações e vitórias cotidianas. O simples fato de termos saúde, capacidade de conhecer gente e de vivenciarmos mudanças já auxilia.