A Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que em Minas Gerais, 20,9% da população está na linha da pobreza. A síntese é uma análise das condições de trabalho e moradia, rendimento, pobreza e educação da população brasileira com o objetivo de retratar a realidade social do país a partir de indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).
Como no Brasil não há uma linha de pobreza oficial, para medir os níveis de miséria, o IBGE utilizou como parâmetro a medida calculada pelo Banco Mundial para países como os da América Latina, que determina o valor de US$ 5,5 por dia para a subsistência como na linha da pobreza. Esse valor equivale a R$ 406 por mês, o que incluía, em 2017, 26,5% da população brasileira. Em Minas Gerais, esse total, no mesmo período, era ainda menor: R$ 398 é o que quase 21% das famílias mineiras têm para conseguir sobreviver durante um mês.
De acordo com a demógrafa Luciene Longo, da Supervisão de Disseminação de Informações (SDI) do IBGE, Minas Gerais tinham mantido o nível de miséria nos últimos 2 anos. “Enquanto no Brasil o percentual de pobreza e extrema pobreza aumentou, aqui isso não aconteceu. No corte US$ 5,5, em 2017, foi de 20,9%, em 2016 era 20,8%. Considerando o coeficiente de variação da pesquisa, está estável”, comenta.
Segundo o IBGE, um dos indicadores mais relevantes para se analisar as condições de vida da população é a distribuição dos rendimentos. Em 2017, mais da metade das pessoas recebiam até 1 salário mínimo de rendimento domiciliar per capita tanto no Brasil (58,9%) quanto em Minas Gerais (57,2%), enquanto a proporção de pessoas que recebiam mais de 5 salários mínimos era de apenas 4,0% no país e 3,3% no estado.
Distribuição de renda desigual
Para entender melhor essa questão, alguns índices são calculados. Em 2017, o índice de Gini (instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo) no Brasil era de 0,549 e em Minas Gerais 0,506, quanto mais próximo de 1, pior é a distribuição da renda. Outra medida de desigualdade é o Índice de Palma, que no mesmo ano era de 3,51 para o Brasil e 2,89 para Minas. “Significa que os 10% dos mineiros mais ricos recebem 2,89 vezes o que os 40% mais pobres recebem. Quanto mais próximo este índice está de zero, menor é o nível de desigualdade”, explica Luciene.
Em relação ao Brasil, Minas é um dos estados com menores índices de desigualdade. Para se ter uma ideia, o nível de desigualdade no Distrito Federal superou as outras 26 unidades da federação e marcou 5,57.
Acesso à educação é o mais grave
Como a pobreza é um fenômeno multidimensional, também deve se analisar indicadores não monetários, como a falta de acesso à educação, à proteção social, à moradia adequada, aos serviços de saneamento básico e à comunicação (internet).
No Brasil, 63,2% das pessoas residiam em domicílios com pelo menos uma dessas restrições, em Minas Gerais esse percentual era de 51,9%. Enquanto a maior proporção de brasileiros tem restrição de acesso aos serviços de saneamento básico (37,6%), em Minas a principal restrição é a educação (30,4%).
Os mineiros de 25 anos ou mais têm nível de instrução mais baixo que a média nacional. Quase metade da população brasileira (49,4%) nessa faixa etária tinha o ensino fundamental completo em 2017, enquanto o percentual de pessoas com ensino superior alcançou 15,7%. Entre os mineiros, há uma proporção maior de pessoas com no máximo, ensino fundamental completo (54,4%) e um percentual menor com ensino superior completo (13,7%). “Na questão do acesso educacional, a dificuldade é muito mais grave e séria em Minas do que em relação à média do país”, ressalta Luciene.
O que fazer?
Para erradicar a pobreza, o estudo apontou que seria necessário investir R$ 10,2 bilhões por mês na economia, ou garantir R$ 187 por mês a mais, em média, na renda de cada pessoa nessa situação. A análise demonstra que não só a incidência da pobreza aumentou, mas também a intensidade, já que em 2016 esse valor era de R$ 183 a mais.
O analista da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, Leonardo Athias, indica que, além de políticas públicas do governo, a melhora nas condições do mercado de trabalho é um dos caminhos que podem contribuir para a redução da pobreza: “ter oportunidades, reduzir a desocupação e aumentar a formalização. Obviamente, tem uma série de efeitos que permitem as pessoas saírem dessa situação”.