A eleição de 2018 deixou de calças na mão profissionais de comunicação e políticos profissionais. Se em 2014 as redes sociais não influíram tanto, neste ano elas foram determinantes. A velha forma de fazer campanha acabou: seja pela falta de paciência da população ou simplesmente porque o crime não pode andar mais junto da política; como sempre andou e todo mundo se fingia de desentendido.
No âmbito nacional, a polarização extrema que vinha desde 2014, juntos dos arroubos justiceiros da turma de Curitiba, fez brotar o sentimento anti-político e anti-política que culminou com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) que muitos – eu incluso! – acreditavam não ter musculatura para ir além do primeiro turno. Erramos. Errei. Assumo.
Não existe política fora da política e o discurso da “nova política” é só um rococó para seduzir deslumbrados. Quem é do meio sabe! Mas desejo, e creio ser dever de todo brasileiro patriota, uma boa sorte ao novo Governo. O Brasil não aguenta mais a separação entre “nós” e “eles”, cravada desde 2003 pelo comunopetismo ou o lulopetismo, como gostam de definir os mais inocentes.
Preocupa-me, entretanto, alguns anúncios já feitos, como o super ministério da Justiça e Segurança Pública, a ser comandado pelo juiz Sérgio Moro, um sujeito que tem lá interpretações muito próprias, para não dizer extravagantes, tanto da Constituição quanto do Código de Processo Penal.
A ideia é juntar as atribuições de Ministério da Justiça, Transparência e Controladoria-Geral da União, Segurança Pública e o COAF — Conselho de Controle de Atividades Financeiras, hoje subordinado ao Ministério da Fazenda. Nem Paulo Guedes, czar da economia, terá tanta influência no novo governo. Sergio Moro terá na palma da mão a vida de qualquer indivíduo da República, incluindo os digníssimos parlamentares, todo o Judiciário e até os vestais da moralidade: o Ministério Público. Um poder realmente incontrastável. E isso é um perigo. Cheira a Gestapo. À polícia política.
MINAS GERAIS. A surpresa em Minas foi a eleição de Romeu Zema (NOVO). De novo aqui tivemos o voto anti-política. Mas não foi só isso. Foi fruto de erros estratégicos do PSDB aecista. Aécio Neves (PSDB) errou em 2014 ao não aceitar a derrota e se aliar ao MDB para propor um processo de impeachment que eu, que modéstia à parte tenho razoável leitura jurídica até hoje tenho dificuldade para explicar. Afinal, se pedalada fiscal fosse motivo para derrubar alguém, não teríamos um prefeito exercendo mandato no Brasil.
O PSDB embarcou no governo Temer, e carregou consigo sua impopularidade aliada a sua natural vaidade. Em Minas deram a eleição como ganha, subiram no salto e quando a porrada desceu no primeiro turno, não sabiam como lidar com a situação. Para quem sempre andou a reboque de um líder acostumado a calar opositores com o poder financeiro ou político, andar sozinho foi uma aventura perigosa. Jogo jogado, lambari pescado, resultado colocado.
E para quem acredita que um partido formado, montado e financiado no Estado por grandes empresários é um mosteiro, só lamento dizer que não existem virgens no bordel. Empresário visa o lucro. De boas intenções o inferno está cheio e eu desconfio sobremaneira de quem prega muita moralidade. Ainda assim, que o novo governo consiga tirar Minas do lamaçal que o PT a enfiou, mas, sejamos justos: o governo Pimentel foi um desastre, mas quem deixou a bomba armada para explodir no colo dele foi o PSDB.
Viva a alternância democrática.
*Jornalista e consultor em marketing político e governamental