Ao longo dos últimos meses, a tensão entre moradores de Pacaraima (RR) e refugiados venezuelanos aumentou rapidamente. Segundo a Organização Internacional para Migrações (OIM) – Agência das Nações Unidas para Migrações -, o Brasil recebeu apenas 2% dos 2,3 milhões de venezuelanos que abandonaram seu país. Ainda assim, a situação preocupa o governo federal e os brasileiros, que vivem sua própria crise econômica: 13,7 milhões de pessoas desempregadas.
O Edição do Brasil conversou com Ricardo Ghizi, doutor em geografia e professor de Relações Internacionais da PUC Minas, para entender a situação de desalento dessas pessoas e como o brasileiro deve lidar com essa crise migratória que não tem previsão para acabar.
O Brasil está preparado para receber essas pessoas?
A princípio, nenhum país está preparado para receber milhares de refugiados. Muitas vezes, eles chegam só com a roupa do corpo, são pessoas que não tem emprego, casa para morar, plano de saúde e sem mão de obra qualificada. O Brasil já está com um problema de desemprego muito grande. Por questões humanitárias, para não deixar essas pessoas entregues à própria sorte, faz o que se pode. Por questões políticas, não é recomendado que se expulse ou feche a fronteira. Então, se acolhe. É como se fosse um vizinho seu que está passando fome e bate à sua porta, se você tem comida na mesa, vai negar? É difícil.
Por que os venezuelanos estão escolhendo o Brasil?
A maior parte está indo para a Colômbia. Na fronteira do Brasil com a Venezuela há uma mata gigantesca em que, basicamente, está o estado de Roraima. A Colômbia já recebeu mais de 1 milhão de refugiados, o Brasil não tem nem 100 mil.
O que está sendo feito para minimizar os efeitos desse grande número de venezuelanos, especialmente, em Roraima?
O governo federal está intervindo com a Força Nacional de Segurança Pública para patrulhar ruas, já foi mandado verba para Roraima e também estão procurando distribuir essas pessoas que estão entrando para outros estados.
Qual o papel do Brasil perante a crise na Venezuela?
O Brasil é a maior economia e liderança da América do Sul. Cabe a nós liderar, juntamente com a Colômbia e outros países, a solução para esse problema. É preciso pressionar o governo da Venezuela. Se Nicólas Maduro não renunciar, o país não promover eleições para um novo governo representativo e reimplantar o capitalismo não há solução. Porque foi a maneira como o socialismo foi implantado que destruiu a Venezuela. Não há sinais de uma possível renúncia. Quem detém poder, não quer deixá-lo, porque tem uma série de benesses e regalias que o resto da população não tem. É por isso que muitos militares apoiam Maduro, porque eles se beneficiam dessa pouca riqueza que o país tem.
Que tipo de situações os venezuelanos estão vivenciando?
São pessoas que estão desempregadas, que muitas vezes, não tem dinheiro para pagar aluguel, portanto, sem casa para morar. Elas estão sem comer, porque além da crise econômica, em que a inflação altíssima faz com que o dinheiro perca valor de um dia para o outro, existe também o problema de desabastecimento de alimentos. Faltam recursos básicos para sobreviver. Um exemplo disso foi a falta de papel higiênico para comprar.
A imagem de Aylan Kurdi, garoto sírio de 3 anos, encontrado morto em uma praia turca depois que seu barco naufragou, chocou o mundo. Agora, em solo brasileiro, vemos crianças venezuelanas pedindo refúgio. Como lidar com essa situação delicada?
Primeiro, entender a gravidade da situação. São pessoas que estão vindo para o Brasil não porque querem, e sim porque não veem outra opção de sobrevivência na Venezuela. A maioria das pessoas gostam de morar em seus países de origem. Quando você abandona seu país, ela está completamente desesperançosa. No mundo, hoje, temos mais de 100 milhões de refugiados, a maioria de guerras. O brasileiro precisa perceber o drama desses indivíduos e compreender que não vivemos isolados do resto do mundo. Precisamos ajudá-los. São nossos vizinhos.