Setembro é o mês escolhido para falar sobre a prevenção ao suicídio. A cada 40 segundos uma pessoa coloca fim a própria vida em todo o mundo anualmente. No Brasil, entre 2011 e 2016, observou-se aumento dos casos notificados de lesão autoprovocada de 209,5% e 194,7%, respectivamente.
Segundo um estudo recente realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 17% dos brasileiros já pensaram em suicídio. Pesquisas apontam ainda que 32 pessoas encerram suas vidas todos os dias, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em Minas Gerais, são registrados 3 casos por dia.
Um dado chama a atenção: 90% dos casos poderiam ser evitados se houvessem mais debates sobre o tema, acolhimento e escuta sem julgamento. A psicóloga Simone Ottoni explica que quem pensa em tirar a vida raramente encontra alguém disposto a ouvir seus desabafos, principalmente por pessoas próximas, como familiares e amigos. “O que mais ouço de quem já tentou suicídio é que não têm o desejo de morrer, mas sim de se livrar da angústia insuportável que sentem. Por isso, a morte passa a ser a única saída”.
Segundo Simone, compartilhar a dor pode ser uma solução. “Ela precisa saber que não está sozinha e não precisa guardar tudo pra si. Além disso, a família deve ficar atenta, porque a pessoa pode dar sinais que eles não estão percebendo”.
A mudança de comportamento é sutil. “Mas um olhar atento consegue perceber. A pessoa começa a descuidar da aparência, fica desanimada com tudo, tem alteração no apetite e no sono. Alguns chegam a falar que vão cometer o ato, mas poucas vezes são levados a sério”.
Pronto Socorro Emocional
A campanha Setembro Amarelo visa conscientizar as pessoas sobre a prevenção ao suicídio. O Centro de Valorização à Vida (CVV) faz o trabalho de escuta e recebeu, só no ano passado, 2 milhões de ligações. Em junho deste ano, uma parceria entre o Ministério da Saúde e o CVV deu acesso ao serviço para 5.500 municípios no país. A ligação para o 188 passou a ser gratuita e estimam receber 2,5 milhões até de 2018.
A representante do CVV em Belo Horizonte, Ordália Soares, declara que o nono mês do ano passou a ser muito importante para a valorização da vida, pois é quando o assunto é falado abertamente. “O suicídio é um tabu por aqui. Mas é preciso falar para conscientizar que existe um pronto-socorro emocional à disposição para a pessoa desabafar. Ninguém está sozinho”.
Tecnologia x Emocional
Uma pesquisa da Universidade de San Diego (EUA) associou os altos índices de suicídio com o aumento no uso de aparelhos eletrônicos como tablets e celular. De acordo com o estudo, as pessoas mais expostas a esses dispositivos manifestam menores níveis de autoestima e felicidade.
Segundo Simone, a tecnologia contribui com esse processo. “As pessoas acabam passando muito tempo na internet e se privam de contato social, tanto com a família como com os amigos. E observamos também que esse excesso pode desencadear inúmeros transtornos”.
Para ela, o uso deve ser limitado. “Há quem deixe de comer para ficar no computador ou celular. A qualidade do sono fica prejudicada e isso atrapalha o dia a dia. O trabalho mais importante a ser feito é o de prevenção, entretanto, só buscam auxílio quando já estão sem controle e completamente dependentes”.
A psicóloga reitera que outro fator delicado na ligação entre suicídio e tecnologia é que as pessoas acabam usando muito as redes sociais. “Lá, ela busca aprovação social por meio de seguidores e curtidas. Além do mais, passa a querer viver a vida do outro, que parece ser sempre melhor. Tudo isso gera uma frustração e estamos cada vez menos tolerantes a isso”, conclui.