A Copa do Mundo teve início na quinta-feira, 14, com a vitória do time anfitrião da Rússia sobre a Arábia Saudita. Mas às vésperas da estreia, 53% dos brasileiros diziam não se importar com o fato. Segundo levantamento do Datafolha, que entrevistou 2.824 pessoas em 174 municípios brasileiros, o índice de desinteresse pelo torneio é o mais alto já registrado para o evento, considerando tanto edições anteriores quanto uma outra pesquisa, realizada em janeiro deste ano, quando 42% demonstravam falta de interesse pela competição.
O grau de desinteresse pela competição esportiva fica acima da média entre as mulheres (61%) e nas regiões Sul (59%) e Sudeste (58%). No Nordeste, por outro lado, fica abaixo da média (44%), assim como entre os homens (44%) e entre os mais jovens (46%).
Para Emanuel Carneiro, presidente da rádio Itatiaia, apresentador e comentarista esportivo que acompanha Copas do Mundo desde a década de 1950, os números não assustam. “Maior ou menor interesse, depende muito da participação da seleção brasileira. Se ela for bem, jogar dentro das expectativas que foram criadas, porque nós temos um time bom para disputar a Copa, isso vai mudar”.
A cuidadora de idosos Regina Costa sempre teve o hábito de acompanhar os jogos no trabalho, esse ano no entanto, demonstra pouco ânimo. “Esse ano tenho esperança que ganhe, mas com tanta coisa acontecendo, só Deus”, diz.
Apesar do desinteresse recorde, a seleção brasileira é apontada como campeã por 48%, o índice de favoritismo do Brasil pelos brasileiros é o mais baixo já registrado. Na sequência aparecem Alemanha (11%), Argentina (2%), Rússia (2%), França (2%) e Espanha (2%). Há ainda 31% que preferiram não apontar nenhum time.
O menor dos problemas
Luiz Carlos Gomes, jornalista esportivo e presidente da Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE), acredita que o brasileiro não conseguiu deixar de lado o momento político e econômico do país para torcer. “Todo mundo está muito revoltado com a situação do Brasil, acaba que as pessoas descarregam isso no futebol”.
Para ele, o uso político da camisa da seleção brasileira em manifestações também afetou o clima esportivo. “A camisa da seleção, tradicionalmente amarela, chamada de canarinho, foi usada na política, no momento do impeachment. Muita gente fala que quem coloca a camisa ‘está a favor do golpe’, então misturou tudo. Acabou desgastando a imagem da camisa da seleção que é amarela desde sempre”, analisa.
A primeira lembrança de Copa do Mundo do assessor de imprensa Hugo Coimbra é a de 1994, cortando papéis para a hora do gol, “O tempo passou. Hoje, sou mais ligado ao meu time, acho seleção uma grande perda de tempo, primeiro que encobre todos os problemas que o Brasil passa. Segundo, que o símbolo da CBF representa uma das instituições mais corruptas que existe hoje. Estou mais preocupado com o Fora Temer do que com seleção brasileira”, afirma.
Para a comerciante Divina Primo, os jogos, que um dia foram motivos de orgulho, já não emocionam. “Gostar de Copa, acho que todo brasileiro gosta ou já gostou. O que a gente não gosta é desses jogadores que, hoje em dia, parecem pensar só em dinheiro. Enfeitar casa já foi o tempo, quando tinha criança em casa era uma alegria. Era uma festa com pipoca e refrigerante, ansiosos na frente da televisão. Esse ano se fala mais em dinheiro, corrupção, tenho é vergonha”, comenta.
O profissional de marketing Marcelo Silvério, que costumava enfeitar a rua de sua casa e assistir com amigos e vizinhos os jogos do mega evento, sentiu falta de empatia dos jogadores pela atual situação do país. “Pessoalmente, uma das coisas que me desanimou esse ano, foi quando a greve dos caminhoneiros estava no ápice e os jogadores embarcaram para a Inglaterra, regados de luxo, como se nada estivesse acontecendo. Para mim, soou como um grande descaso com o Brasil”, critica.