No Brasil, a conversa sobre política é um tanto quanto delicada. Uma prova é que a obrigatoriedade para se votar é apenas aos 18 anos, deixando as portas abertas para quem tem 16 escolher se participará ou não da escolha de um candidato. E quando se trata de crianças, o tema ainda é um tabu. Na internet é possível encontrar vários vídeos de pesquisas relacionadas à questão de como as crianças enxergam a política. Em muitos deles, as respostas são engraçadas, no entanto, alguns chamam a atenção pelo conhecimento no assunto. Expressões como: “Eu não gosto de política”; “Eu não sou muito ligado à política”; “Manifestação?”; “Política é o voto”; “Às vezes serve e às vezes não”; “Os políticos falam e não cumprem” são comuns.
A estudante da terceira série do ensino fundamental, Emily Santos, 9, conta que não entende muito de política, mas ao ser questionada sobre quem é o presidente do país, a resposta estava na ponta da língua. “É o Temer. Ele tem que fazer as regras, coordenar as pessoas e executar as leis”.
A psicóloga Jussara Monteiro afirma que a criança funciona pelo exemplo. Então, se há conversas no ambiente familiar sobre o tema, você estará formando ela com seus conceitos. “Assim, a criança vai estar apta a pensar politicamente”.
Jussara acrescenta ainda que o currículo educacional deve ser aberto para discussões políticas. “Claro que para cada faixa etária deve-se adaptar o conteúdo. Assim como outros assuntos, a política é uma questão de educação que deve começar cedo, primeiro em casa e depois na escola”.
[table “” not found /]Em prática
Na cidade de Raposos, a prefeitura abriu espaço para que os alunos da Rede Pública de Ensino participassem ativamente de um processo eleitoral por meio do projeto “Prefeito por um dia”, elaborado pela Secretaria de Desenvolvimento Social, em parceria com a Secretaria de Educação.
Segundo informações da assessoria de imprensa, a intenção é despertar nos alunos a conscientização da importância de se falar sobre políticas públicas. Os alunos entre 10 e 12 foram escolhidos para participar do projeto que pretende ainda ouvir os pequenos cidadãos sobre o que eles consideram prioridade no município.
“É na escola que devemos iniciar nosso olhar crítico para os problemas que afetam nossa cidade e comunidade. Para ser político é preciso ter a honestidade em primeiro lugar, é necessário ter a preocupação com o próximo. Esses jovens são o futuro da nossa nação”, salienta o prefeito Sérgio Silveira Soares (PSB).
[table “” not found /]Política X Jovem
A falta de diálogo sobre política na infância prejudica a formação de jovens interessados no assunto, tanto que uma pesquisa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que 60% dos jovens entre 18 e 20 anos têm título de eleitor e votaram nas últimas eleições. Mas o que chama a atenção de especialistas é a falta de interesse sobre propostas políticas. De acordo com o estudo, os jovens com nível superior participam mais dos debates, principalmente, com amigos e parentes. O levantamento revela ainda que as desmotivações para o ato de votar foram bem mais fortes que as motivações entre as pessoas de 16 e 17 anos e com baixa escolaridade. Para esse grupo, o voto é encarado como um instrumento sem peso, especialmente, porque não enxergam mudanças pós-eleição.
A psicóloga diz que o jovem recebe muita informação e não enxerga a política como algo interessante e voltada a educação, mas apenas a corrupção. “Para o adolescente o momento é o hoje. Tudo é imediato, se não há nada positivo, ele se afasta”.