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“Existe um buraco entre a aprendizagem e aquilo que o jovem vive no seu dia a dia”

O Todos Pela Educação lançou a 7ª edição do relatório De Olho nas Metas, publicação que monitora os indicadores das 5 objetivos estabelecidos pelo movimento em 2006. Elas são: 1) Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola; 2) Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; 3) Todo aluno com aprendizado adequado ao seu ano; 4) Todo jovem de 19 anos com ensino médio concluído; e 5) Investimento em educação ampliado e bem gerido.

O Edição do Brasil conversou com o diretor de Políticas Públicas do Todos pela Educação, Olavo Nogueira. Para ele, existe um buraco entre a forma que a escola oferta a experiência de aprendizagem e aquilo que o jovem vive no seu dia a dia, trazendo para a sala de aula professores despreparados e alunos desinteressados.

O que são essas metas e como elas são mensuradas?
Elas foram criadas em 2006 a fim de que o Brasil garanta a todas as crianças e jovens o direito à educação de qualidade. Os indicadores que nos ajudam a mensurar as metas e avaliar seus desempenhos são oficiais e provenientes do governo nacional. São utilizados os dados do censo escolar, o resultado das variações da união, além das informações de aprovação e reprovação nas escolas. A meta de investimento é verificada de acordo com os orçamentos públicos.

O cenário melhorou após a aplicação delas? Como você avalia as 5 metas hoje?
Melhorou, mas ainda existem indicadores baixos. Talvez, os principais avanços estejam na 1 e 2, que garante acesso e alfabetização. Progredimos nos dados de acesso, mas ainda não fechamos esse capítulo no âmbito da educação brasileira, uma vez que cerca de 3 milhões de crianças de 4 até 7 anos estão fora da escola. Crescemos na alfabetização, porém o cenário ainda é de alunos de 8 anos não adequadamente alfabetizados em matemática.

As metas 3 e 4 dizem sobre um ensino apropriado ao final dos ciclos, ou seja, 5° e 9° ano do fundamental. Observamos que no 5° ano existe um progresso em grande medida. Era de se esperar que essa melhoria transbordasse para o fundamental 2 do ensino médio, mas isso acontece de maneira menos positiva. A meta 4 tem avançado pouco por conta desses resultados ruins. E a meta 5 tem crescido, já que o gasto público com a Educação triplicou nos últimos 10 anos. Entretanto, é válido dizer que o aumento do investimento não vem acompanhado de melhorias no resultado do ponto de vista proporcional.

Quais são os maiores desafios?
De um modo geral, os desafios que o Brasil enfrenta nessas etapas é em relação ao fundamental 2 do ensino médio, que tem a ver com a estrutura de organização e modelo de escola que hoje o país tem. Se nos anos iniciais havia uma estrutura que, de certa forma, mostrava uma melhoria inconsistente, o fato da gente não ver transbordar bons resultados começam a sugerir que se tenha um problema estrutural.

E qual seria esse problema estrutural?
Tem a ver com questões curriculares e a prática pedagógica do que está sendo trazido para os jovens no fundamental 2 e que se acentua no ensino médio. Por isso, é razoável indicarmos que o principal desafio da educação é criar boas políticas docentes de apoio e formação aos professores, além de condições de trabalho para que se possa ter uma boa atuação. Há um buraco entre a forma que a escola oferta a experiência de aprendizagem e aquilo que o jovem vive no seu dia a dia.

O ponto mais importante do debate é como repensar a prática pedagógica dos professores, pois não haverá reforma do ensino sem um profissional bem preparado, motivado e com boas condições de trabalho. Enquanto não colocarem o professor como elemento central da educação, não conseguiremos mudar os resultados.

Como Minas Gerais se posiciona dentro desse plano?
Minas Gerais faz parte de um conjunto de Estados com o nível socioeconômico mais alto. Isso impacta porque, não só no Brasil, mas em todos os países, o resultado tem a ver com o nível do local onde a escola está. Automaticamente, ele vai ser bom se esse índice for alto. Contudo, Minas tem um desafio um pouco maior, pois é um Estado com um conjunto muito grande de municípios. Conseguir fazer com que todos tenham um bom sistema de educação não é tarefa fácil.

Qual a expectativa para o próximo ano?
Trazer qualidade ao ensino, principalmente no fundamental 2 e ensino médio. Temos uma oportunidade no que diz respeito a melhoria dos resultados, que é o avanço da base nacional curricular. Ela vai elencar um conjunto de objetivos de aprendizagem que deve ser comum em todos os alunos de 0 anos até o fim da etapa do ensino médio. Muitas redes de educação, principalmente as municipais, não têm currículo. Não é o caso de Minas, mas isso significa que o que se espera no fim da etapa escolar do jovem não está claro.

Do ponto de vista de gestão, isso se torna mais grave na medida que as demais políticas não podem ser alinhadas para esse objetivo comum. Por exemplo, se não sei exatamente o que todos os alunos têm o direito de aprender até o final de uma etapa, como faço a formação de professores?
A medida tem o papel de alinhar o sistema e, se bem implementada, pode trazer um avanço importante, uma vez que todas as políticas descritas – que são formações e materiais de apoio aos professores, avaliação dos alunos com feedback dos resultados – passarão a existir em conjunto, impactando de maneira positiva a aprendizagem dos alunos.